O reconhecimento oficial de situação grave na saúde pública estadual pode ser um passo importante para a tomada de providências fora do padrão, no sentido de ultrapassar a crise e lançar fundamentos para que outras como essa não se repitam. E não apenas no âmbito do governo de Pernambuco. A saúde pública, bem como o bem-estar geral da população, é responsabilidade compartilhada entre todos os níveis de gestão, que não podem lavar as mãos diante do descalabro, e sobretudo, do sofrimento das pessoas. Como no caso da dor de crianças menores de cinco anos de idade e suas famílias, vítimas do atual surto de doenças respiratórias, que superlotam os hospitais, inclusive os leitos de terapia intensiva.
O aumento vertiginoso de casos de síndrome respiratória aguda grave (srag) nas crianças dessa faixa etária é percebido em várias partes do país. E tem relação, em parte, com o baixo índice de vacinação contra a gripe, chamando também os pais à responsabilidade perante o quadro de descontrole. Mas se a imunização insuficiente é um fracasso social que pode ser debitado, em parte, de um comportamento coletivo refratário às vacinas, por ironia, depois de as vacinas se mostrarem cruciais para a redução das mortes por Covid durante a pandemia, trata-se, antes, de um fracasso da saúde pública e dos governantes que respondem por ela.
Atualmente, em Pernambuco, a rede de UTIs para crianças opera com a capacidade máxima lotada, sendo 219 unidades pediátricas e 111 neonatais. Nota-se que, dentro das “medidas urgentes voltadas à prevenção, controle e ampliação da rede de atenção à saúde infantil”, a abertura de leitos de terapia intensiva de reserva não pode ser descartada. O ciclo de maior incidência viral é conhecido, os momentos de pico da demanda idem. Cabe aos gestores públicos programarem a oferta de acordo com a necessidade, em especial durante os esperados períodos de crescimento da demanda. As providências de quem possui o dever de fazê-las pode salvar vidas, e evitar a angústia dos pequenos e familiares.
Na semana passada, a fila de espera por uma UTI pediátrica em Pernambuco era de 87 crianças, incluindo recém-nascidos e bebês. Identificar a emergência é um passo importante, mas é preciso cuidar para que uma tal realidade não seja mais aceitável. Seja em articulação com outros níveis de governo, e a participação do Ministério da Saúde, seja por medidas estritamente concernentes ao governo estadual, a população anseia por soluções estruturais, capazes de impedir a repetição da crise das crianças nos hospitais nos próximos meses, ou mesmo nos próximos anos. E não faltam diagnósticos para isso – resta vir a decisão para mudar o que não vai bem.
Vale recordar a lição da pandemia que está na memória de tantos, mas não de todos: a abertura de leitos de terapia intensiva não é simples, nem na velocidade requerida para as crises. O melhor é buscar a prevenção, ou através de vacinas, ou de outras medidas que afastem os pacientes do risco de casos graves. Mesmo assim, a contratação de pessoal qualificado, bem como a aquisição de equipamentos adequados para a terapia intensiva, podem ser feitas com antecedência, minimizando as consequências que transmitem, sempre, a mensagem de despreparo da saúde pública.
Hospitais lotados de crianças
A abertura de leitos de terapia intensiva não é simples, nem na velocidade requerida para as crises