A hostilização a equipes jornalísticas e profissionais de comunicação é um mau sinal de uma época marcada pela profusão de informações, pela troca frenética de mensagens e, também, pelo baixo interesse na checagem da verdade naquilo que se transmite. Como na França dos últimos dias. Os protestos que ganham repercussão no mundo inteiro graças, em larga medida, ao trabalho da imprensa, também têm sido caracterizados pelo ataque aos jornalistas, tratados como inimigos por manifestantes que se comportam como radicais, ainda que não se vejam como tal. O primeiro passo do radicalismo é na direção da censura, revelando não apenas a intolerância com o dissenso, mas incoerência na defesa de ideias, propostas e motivos de revolta.
A cobertura das manifestações na França ocasionou agressões a pelo menos sete jornalistas, até gora. Um foi atingido covardemente por um pé de cabra, e precisou receber sete pontos na cabeça. Um paralelepípedo foi atirado contra um fotógrafo do Liberation, que ainda foi alvo da ira de alguns, ao cair no chão. Um repórter do jornal Figaro, após sofrer agressões, teve o celular roubado. Outro do mesmo jornal chegou a ser ameaçado com um revólver. A rotina da violência contra a imprensa nos protestos franceses também pôde ser vista nas manifestações de março contra a reforma da previdência. Desta vez, o estopim da ida às ruas foi o assassinato de um jovem negro de 17 anos pela polícia.
Na Europa, a onda de ataques aos jornalistas se intensificou durante a pandemia, por parte de integrantes da extrema direita que não acreditavam nas vacinas, e chamavam as profissionais da imprensa de terroristas. Curioso como o jargão de uma pretensa liberdade de expressão se volta, com denunciadora facilidade, contra a liberdade dos outros, especialmente quando a notícia, respaldada pela ciência, busca promover o esclarecimento da população. Na Alemanha, um manequim foi pendurado pelo pescoço com a inscrição “Imprensa Covid”, num dos mais chocantes registros do obscurantismo nos últimos anos.
Organizações como a Repórteres Sem Fronteiras vêm alertando os governos europeus e no resto do mundo, para que garantam a segurança da imprensa no exercício de suas atividades. Mas o assustador é o envolvimento de cidadãos nesse tipo de ataque, que lembra a desinformação e a intolerância de séculos atrás. Nota-se que a quantidade de informação disponível não se traduz em esclarecimento, seja por conta da proliferação de fake news, seja pelo negacionismo acoplado a ideias e comportamentos estimulados pelo interesse político.
No Brasil, no triste 8 de janeiro e dias que se seguiram à depredação dos Três Poderes, dezenas de jornalistas foram impedidos de trabalhar, sendo agredidos pelos manifestantes. Os ataques à imprensa configuram retrocesso para a democracia, na medida em que restringem o direito à informação, um dos pressupostos do sistema democrático.
Ataques a jornalistas ameaçam a democracia
Direito à informação vira alvo de censura e violência por manifestantes que abraçam o radicalismo