Locais de refúgio e acolhimento, onde se busca a paz e o conhecimento, as bibliotecas não guardam apenas livros: oferecem diversos mundos possíveis, descortinados a cada leitura. São ainda pontos de encontro para quem estuda ou se aventura em histórias contadas ontem, ou muito anos atrás, que abrem o horizonte das coincidências e das diferenças entre variadas épocas e lugares os mais distantes. Há bibliotecas de todos os tamanhos, das maiores, tradicionais, com acervos transmitidos através dos séculos, às menores, como as comunitárias, com livros doados por moradores que desejam ver e ter mais leitores ao redor.
Com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços prestados por bibliotecas comunitárias na cidade, a Prefeitura do Recife abriu edital para aplicar R$ 200 mil nesses equipamentos. Mais importante que o valor, a ser dividido pelos aprovados, é a iniciativa que reconhece nas bibliotecas um instrumento de transformação social, catalizador de saltos pessoais e de indiscutível repercussão coletiva. Cada real investido em uma biblioteca atende a demandas valiosas da população, incluindo a educação e a interação no seio da própria comunidade. Os gestores públicos, em geral, não olham para as bibliotecas com a devida atenção para o potencial da leitura e do compartilhamento dos livros.
Os recursos financeiros serão destinados às bibliotecas selecionadas que cumprirem os requisitos do edital, apresentando plano de trabalho para o uso do dinheiro. Para Deborah Echeverria, gerente geral da Rede de Bibliotecas Pela Paz do Recife, trata-se de uma oportunidade para a melhoria dos serviços que já são prestados pelas bibliotecas às comunidades. O chamamento público é dirigido a Organizações da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos, que atendem às exigências do edital. As inscrições estão abertas até o final do mês.
Vale a pena ressaltar que o trabalho tão belo realizado pelas bibliotecas comunitárias demanda mais apoio do poder público, e da sociedade em geral. Em reportagem publicada em 2019, o JC trouxe um panorama dessa realidade, a partir do vácuo de bibliotecas públicas em Pernambuco. Em todos os casos, o surgimento de espaços de leitura está atrelado ao esforço e à dedicação de um indivíduo ou um grupo de pessoas, que investem recursos de seu bolso para começar um projeto de alcance coletivo. O merecido apoio do poder público – de qualquer nível de governo – poderia impulsionar tais iniciativas, multiplicando seus efeitos e conferindo escala para a formação de uma rede de bibliotecas comunitárias no estado.
O edital da Prefeitura do Recife é um exemplo de apoio que deve ser replicado e ampliado. O principal problema para a formação de leitores no Brasil, especialmente nas comunidades de baixa renda, é o acesso ao livro e à leitura. Mesmo nos bairros de classe média, a população não conta com livrarias e bibliotecas em quantidade suficiente. No país não se lê pouco – o que não se oferece a contento é chance de leitura.
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Edição do Jornal
