SEGURANÇA

Saúde mental de policiais

Na linha de frente do combate ao crime organizado e à violência, homens e mulheres sentem o peso psíquico da precariedade do trabalho

JC
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Publicado em 17/07/2023 às 0:00

Quase dois mil integrantes da Polícia Militar de Pernambuco foram afastados do trabalho por motivo de saúde mental, no ano passado. Os números levantados pelo JC, graças à Lei de Acesso à Informação, e publicados na edição de ontem, descortinam uma situação grave que acende o alerta para os gestores da segurança pública no estado. E revelam a pressão psicológica sobre os profissionais que estão na linha de frente no combate à criminalidade e à violência em Pernambuco. O quadro é preocupante, e sinaliza para a urgência com que o novo governo estadual deve buscar a melhoria das condições de trabalho dos policiais, visando o cumprimento de suas funções sem o comprometimento do equilíbrio mental e da vida no cotidiano familiar e social.
A estatística do sofrimento aponta que a média diária de afastamentos ou licenças médicas foi de cerca de cinco por dia, e que um em cada quatro policiais precisou de atendimento psiquiátrico em 2022. O passivo da segurança pública deixado pelas gestões anteriores, portanto, vai além dos homicídios e do medo que aflige a população. Também se traduz em um ambiente pesado para o exercício das atividades de rotina policial, agravado pelo déficit de contingente e pela precária estrutura de enfrentamento do crime, até o ano passado. A governadora Raquel Lyra e sua equipe têm um desafio adicional, para assegurar aos pernambucanos mais tranquilidade e menos vulnerabilidade às ações e ameaças dos criminosos. Vale frisar que os números dizem respeito aos afastamentos efetuados, ou seja, o volume de casos de indivíduos atuando no limite da saúde mental deve ser maior, porque muitos relutam em se expor pedindo ajuda.
A exigência de plantões extras, inclusive em dias de folga, se dá sobre um efetivo reduzido que não suporta a carga psíquica de um trabalho dessa natureza. Pouca gente suportaria. Do outro lado do problema, o aumento de violência nos últimos anos requer mais e melhores intervenções da parte da segurança pública. Ao planejar estratégias e alinhavar um programa voltado para o bem-estar coletivo, o governo estadual não pode minimizar as consequências da concentração do trabalho sobre recursos humanos escassos, que precisam ser valorizados, e não, explorados além de sua capacidade.
É importante que as autoridades de segurança fiquem atentas ao que vem ocorrendo, para que a saúde psíquica da força policial não continue sendo um obstáculo à evolução do combate ao crime em Pernambuco. Pois isso certamente já se verifica, reduzindo o alcance da plenitude dos potenciais de cada homem e de cada mulher destacados para os serviços. Além do apoio necessário de ponto de vista terapêutico, e dos cuidados que abrangem medicamentos atenuantes, o drama dos policiais é parte da deficiência estrutural em nosso sistema de segurança pública. Para que a polícia tenha saúde e a população, tranquilidade, a infraestrutura de trabalho deve ser aprimorada, o mais breve possível.

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