MOBILIDADE

Prioridade para o transporte coletivo

Sem investimentos e os estímulos necessários, ônibus e metrôs continuam sendo mais problemas do que soluções

JC
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Publicado em 24/07/2023 às 0:00

A Região Metropolitana do Recife tem um dos trânsitos mais difíceis do planeta, superando engarrafamentos em outros lugares que são melhor servidos de transporte coletivo de qualidade. A situação caótica em Pernambuco é consequência de décadas de inversão de prioridades, que deixaram o Metrô sucateado como está, e o serviço de ônibus desconectado das necessidades da população. Não é por acaso que as queixas dos usuários são constantes, e os profissionais do setor ensaiam greves em protesto às condições de trabalho, o que pode tornar o deslocamento diário ainda mais conturbado. O direito de ir e vir fica comprometido, quando não há opções adequadas para transportar grandes massas de gente.
A coluna Mobilidade do JC, com Roberta Soares, tem acompanhado a trajetória do descaso e do descompromisso dos governantes, ao longo dos anos, com o problema do transporte no Brasil e no estado. Na edição de ontem, a colunista mencionou a proposta da tarifa zero para atrair passageiros aos ônibus em Nova Iorque, nos Estados Unidos, em um programa estadual que abrange uma das maiores e mais movimentadas cidades do mundo, dotada de sistema metroviário reconhecido por sua dimensão e alcance. E lembrou que semelhante iniciativa foi utilizada, no ano passado, no Brasil, para garantir o acesso de eleitores aos locais de votação, mas a discussão acerca do tema não prosperou, depois.
O programa de incentivo norte-americano pretende valorizar o transporte coletivo e, assim, promover inclusão social. No caso brasileiro, a preocupação do governo Lula, como em mandatos anteriores, foi lançar um pacote de socorro à indústria automobilística, para vender mais carros, nos primeiros meses de gestão. A inversão de prioridades é clara. E quanto mais se aposta no transporte individual, mais as vias urbanas se entopem, causando estrangulamentos que atrasam a vida de todos e geram deseconomias, sem inclusão social. A porção enorme da população que não pode ter automóvel não conta com serviço de transporte coletivo digno e suficiente, recorrendo, muitas vezes, ao monotransporte das bicicletas – que por mais que seja solução ambientalmente correta, está longe de configurar uma alternativa coletiva.
Em Nova Iorque, algumas linhas de ônibus serão gratuitas, a partir do ano que vem, por um período de dois anos. Serão poucas linhas, num programa piloto para buscar o retorno dos passageiros ao sistema coletivo, depois da retração na pandemia. Os defensores do programa desejam que a experiência se amplie, para que as tarifas não sejam a única fonte de custeio do sistema de transporte, e sobretudo, para que os cidadãos que não tenham capacidade de pagar possam utilizar o serviço. No Brasil, nas eleições, a tarifa zero foi um inegável sucesso. Uma mostra de que o transporte coletivo pode ser a solução para a mobilidade – se não persistir como problema.

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