Sem acordo entre as partes, o governo de Pernambuco resolveu se pronunciar sobre a greve prevista para ter início desde a zero hora de hoje, comunicando às empresas de ônibus e aos rodoviários que a exigência de 80% da frota nos horários de pico, e de metade no restante do dia, deve ser cumprida, em respeito aos usuários. Recorrendo à Constituição, o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano recorda que o transporte coletivo é serviço essencial. A lembrança é oportuna, mas não deveria servir apenas para impedir a amplitude de uma greve. A importância do transporte coletivo, em Pernambuco, vem sendo menosprezada há décadas, fazendo com que o sucateamento do metrô e a insuficiência de ônibus sejam alvos perenes de reclamações na Região Metropolitana do Recife.
É possível que a população amanheça sem opção coletiva de transporte nesta quarta-feira, porque os trabalhadores do metrô também podem fazer greve. Em se concretizando, serão mais de dois milhões de cidadãos prejudicados por dia. Vale repetir o que o JC vem frisando neste espaço, bem como na cobertura do problema ao longo dos anos: metroviários e rodoviários são tão vítimas quanto a população. O descaso com o transporte coletivo se acumula por muitos anos em Pernambuco, resultando em cenários insustentáveis para quem utiliza o serviço, e para os que nele trabalham. Todos perdem quando o caos dita as condições de funcionamento de um sistema de transporte das dimensões requeridas para atender a Região Metropolitana recifense.
As reivindicações das categorias e as justificativas e negativas dos empresários e dos gestores dos sistemas rodoviário e metroviário em Pernambuco, lançam a questão para muito além do que pedem os grevistas. O que importa é o que esperam os usuários, há décadas, reclamando sem serem ouvidos. Ao novo governo estadual, instalado desde janeiro, cabe buscar soluções duradouras, por um lado, e alternativas emergenciais, por outro, a fim de garantir o direito essencial da população, conforme o preceito constitucional estabelece. O comando e a decisão política que faltaram até agora, precisam integrar a estratégia para resolver os imbróglios que transformam os meios de transporte coletivo, em Pernambuco, em problemas que parecem insolúveis.
A circulação mínima de uma frota deficitária, em veículos que partem lotados e sem conforto, pode constituir um transtorno para os passageiros. Compromissos terão que ser cancelados, prejuízos irão ocorrer, e casos mais graves, por exemplo, relacionados ao atendimento de saúde, também podem vir a acontecer. Tudo poderia ser prevenido com boa gestão e investimentos na medida certa para a demanda dos pernambucanos. As greves e as ameaças de greve são sintomáticas de uma paralisia administrativa que tomou conta do transporte coletivo no estado – e não pode continuar, se o bem-estar da coletividade for, de fato, considerado em primeiro plano.
Movimentos grevistas refletem paralisia
Fracasso de negociações traduz o impasse que afeta a mobilidade da população da Região Metropolitana há vários anos