Tem sido um verão inesquecível para muitos turistas e habitantes do hemisfério norte da Terra – mas não pelos melhores motivos. A quantidade dos incêndios e a intensidade do calor, que chega a matar, fazem da estão mais quente do ano, segundo os cientistas, um prenúncio do que há por vir, na esteira de mudanças climáticas que se revelam cada vez mais fora de controle. Para o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, os dados que indicam um recorde na temperatura para o mês de julho configuram “a dura realidade da mudança climática”, e uma prévia do futuro do clima no planeta.
O aumento do calor já vem de junho, que também registrou o mês mais quente da história para essa época do ano. Em julho, as temperaturas do mês anterior estão sendo superadas. Numa cidade da China, o termômetro marcou acima de 52º Celsius. As ondas de calor afetaram a saúde das populações na América do Norte, na Europa e na Ásia. Os oceanos estão mais quentes, contribuindo para o aumento observado na temperatura média global. Os sistemas de correntes marinhas podem sofrer consequências ainda não discerníveis pelos cientistas, que temem alterações maiores no clima, sobretudo através de chuvas fortes e períodos mais intensos de estiagem e calor.
A previsão da desordem climática encontra perspectivas pessimistas, como a do secretário-geral das Nações Unidas, que considera um desastre o cenário que se desenha para a vida na Terra, ameaçando o modo como a humanidade vem ocupando e consumindo a biosfera, há séculos – pondo em risco senão a humanidade inteira, mas territórios densamente povoados em todos os continentes. Antonio Guterres não esconde o que vislumbra: “É aterrador. E é apenas o começo”. Com a alta nas temperaturas nos últimos meses, o tom de alerta vem se transformando, claramente, em medo declarado do caos climático.
A febre planetária poder ser um sintoma de aceleração imprevista das mudanças climáticas, e é isso que assusta, porque não há como prever o que irá acontecer quando o clima apontar para uma transição de grande escala. Como a causa da febre é relacionada ao aumento de gases de efeito estufa na atmosfera, a urgência na emissão desses gases é tida como crucial para tentar desacelerar um processo que não se sabe até que ponto já se encontra em curso. O problema é articular a redução em todo o mundo, sobretudo nos países mais poluidores, onde o nível de consumo energético é imenso. Se pouco se conseguiu fazer até agora, dificilmente teremos uma redução drástica como os cientistas pedem, tão cedo.
O desastre climático referido pelo líder da ONU é também um desastre das instituições globais, que não conseguiram até agora convencer os governos nacionais e impedir a emissão de gases que ampliam o aquecimento da superfície terrestre.
Temperatura recorde preocupa cientistas
Ondas de calor, incêndios e degelo das calotas polares no hemisfério norte podem ser o prenúncio de mudanças ambientais de porte