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População de rua: 220 mil

Números com base no Cadastro Único mostram aumento da quantidade de brasileiros vivendo nas ruas das grandes cidades

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JC

Publicado em 02/09/2023 às 0:00
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Se podemos considerar o contingente de pessoas em situação de rua no Recife como alto, de mais de 1.800 cidadãos, dados relativos a junho apontam que, no país inteiro, passavam de 220 mil os cidadãos que atendem a essa denominação. O levantamento do Observatório Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base no Cadastro Único (CadÚnico) indica que houve crescimento dessa população entre maio e junho, com 5 mil indivíduos a mais de um mês para outro. Somente em São Paulo, maior cidade do país, e a mais rica, o número é chocante: são 53.400 pessoas nas ruas – numa contagem que pode ser subnotificada em pelo menos um terço, segundo o pesquisador André Fernandes, coordenador do Observatório.
Para que as políticas públicas direcionadas aos ocupantes das ruas ganhem a prioridade que merecem, a realidade em que vivem precisa ser devidamente registrada e informada para o restante da população. O governo federal tem estimulado as prefeituras a contabilizarem a miséria exposta a céu aberto, com o objetivo de formular um programa conjunto para retirar as pessoas dessa condição, a partir da articulação, também, com os governos estaduais. De fato, todas as instâncias de poder – dos três poderes da República – deveriam examinar suas prioridades e rever a destinação dos recursos financeiros, de maneira a atender, primeiro, às demandas de quem mais precisa. E ninguém precisa mais do apoio da esfera pública do que os miseráveis nas calçadas, sob os viadutos, nas praças, onde seus direitos básicos não são vistos, e seus dramas se tornam invisíveis para os governantes e para a sociedade.
Assim, na perspectiva de que a realidade começa a ser vista com atenção, seja em São Paulo, no Recife ou na escala nacional, a tendência é que os números da população de rua ainda cresçam bastante antes de diminuir. Pois apenas da constatação da miséria real será possível buscar planos efetivos para melhorar a vexatória condição de vida de – por enquanto, com os dados atuais – 220 mil brasileiros, quase o equivalente à população do município do Cabo de Santo Agostinho.
Um exemplo das dificuldades para se enfrentar a questão vem de São Paulo. De acordo com reportagem da Agência Brasil, publicada no UOL, integrantes de um movimento pelos direitos da população de rua denunciam que há resistência dos moradores de alguns bairros contra a construção de albergues de acolhimento na vizinhança. A oferta de locais para banhos, alimentação e dormida configura providência lógica para os desassistidos, em grave vulnerabilidade, expostos à fome, a doenças e à indiferença de parcelas dos habitantes das cidades.
Em Pernambuco, na capital e em outros municípios, o nível de pobreza solicita da gestão pública, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, ações integradas para se reduzir a miséria – não só nas ruas, mas também nas moradias miseráveis nas palafitas e beiras de precipícios. Muito além de saber os números, é preciso saber quem são as pessoas tratadas com descaso pela coletividade.

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