O patriotismo que celebramos
Data que recorda a Independência propicia reflexão sobre a identidade, a história e o futuro da nação brasileira
Entre a formação que vem dos povos originários, da colonização de Portugal e da chegada massiva de escravos da África, até as primeiras décadas do século 21, onde estamos agora, o povo brasileiro tem sua unidade fundada sobre a diversidade. Como não poderia ser de outro modo, num país de tal vastidão territorial, com nítidas nuances demográficas e marcantes variações culturais. Mas a construção da identidade persiste, no encaixe do que é diverso sem ser estrangeiro, na exaltação do que é comum e nos define coletivamente, e sobretudo, no processo inconcluso da superação das desigualdades que, infelizmente, fazem parte da história e do presente da realidade nacional.
Uma diversidade que não se aparta, inclusive, da Independência, que conta com a participação de Pernambuco, nem sempre mencionada pela historiografia oficial constante nos livros didáticos, na perspectiva transmitida pela Corte do Império desde o século 19. Para ir em direção ao papel dos pernambucanos, a Cepe, editora do governo do Estado, lançou uma coleção de dez volumes, dos quais cinco na semana passada, sobre Pernambuco na Independência. A omissão sobre a Revolução de 1817, “o mais vanguardista projeto de Independência gestado em terras da América portuguesa”, na expressão do historiador George Cabral, organizador da coleção, não se sustenta diante da revisitação dos fatos da época. O conhecimento e a divulgação da participação dos pernambucanos, como escreveu o historiador neste JC na última segunda-feira, e de todos os brasileiros na formação do país, é importante contribuição para a evolução de nosso caráter coletivo.
É pela integração do passado ao presente, e a abertura de visão mais ampla que favoreça a compreensão do povo que somos, junto e diverso, que podemos falar de um patriotismo digno de celebração na data de hoje. Ao servir para radicalismos e separatismos que funcionam como negação de nossa integridade, o 7 de Setembro é desvirtuado, deixa de ter o propósito que pode para a melhoria da qualidade de vida em uma nação trincada pela política divisionista, que faz do poder, ao invés de instrumento de transformação, palco de atraso e estagnação.
Comemorar o patriotismo em sua virtude significa difundir o exercício da empatia e da solidariedade, num país como o Brasil, tão desigual. O desafio dos governantes e demais integrantes do serviço público, dos Três Poderes e em todas as esferas de gestão, é catalisar os patriotas em torno do desenvolvimento inclusivo que poder fazer uma nação mais justa, pacífica e próspera. O desejo por um país melhor nos irmana, de norte a sul, da Amazônia ao Nordeste. Recuperar e estimular a capacidade de diálogo, de formação de consensos honestos, que não descartem ou escamoteiem as discordâncias, é a tarefa da atual geração de brasileiros, já marcada por distanciamentos demais.
O 7 de Setembro é uma oportunidade para cidadãos, adversários políticos e até familiares se aproximarem. Chega de exaltar as discórdias – se queremos passar uma nação mais coesa e alguma esperança para as próximas gerações.