TROCA MINISTERIAL

Ponto para o Planalto Centrão

Saída de Ana Moser do Ministério dos Esportes demonstra a vulnerabilidade do Executivo, num presidencialismo em ruínas

Imagem do autor
Cadastrado por

JC

Publicado em 09/09/2023 às 0:00
Notícia
X

Diz o ditado que em time que está ganhando, não se mexe. Do outro lado da lógica, em time perdendo, são esperadas mexidas. No início de seu terceiro mandato, com mais de um exemplo de decepção para a torcida nos anteriores, o governo Lula não pode afirmar que está vencendo nada, mas parece dar indícios de derrota em pelo menos um flanco – o do jogo pesado de formação da base de votação no Congresso. Pelo menos essa tem sido a explicação corrente sobre a prematura saída da ministra do Esporte, a ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, Ana Moser. Para substitui-la, o presidente da República escalou um deputado federal do PP do Maranhão, conhecido como André Fufuca. O novo ministro não tem intimidade com as quadras, ou com assuntos ligados à pasta. Mas possui as credenciais do respaldo do presidente da Câmara, Arthur Lira, cujo grupo, conhecido por Centrão, pressiona o Palácio do Planalto pela ocupação de mais cargos e orçamentos. Não menos importante, Fufuca é amigo do ministro Flávio Dino, da Justiça.
A leitura de que o Centrão de Lira e Fufuca derrubou Ana Moser não ameniza a decisão política do presidente eleito que posou ao lado da esportista ilustre, na posse da equipe, meses atrás, sob o discurso de renovação, restauração e mudança. Por maior que seja a pressão no Congresso, a submissão de Lula representa um grau de vulnerabilidade do Executivo que vem aumentando, nos últimos anos, por governos consecutivos, o apetite voraz de parlamentares e dirigentes partidários muito pouco interessados nos problemas nacionais. No presidencialismo em ruínas praticado em Brasília, o Executivo finge que governa, o Legislativo finge que apoia, e o Judiciário finge que modera o jogo de cena, contribuindo para ampliar a encenação com decisões contraditórias e engajamentos monocráticos, como a esdrúxula revogação da culpa de corruptos confessos por um ministro do Supremo Tribunal Federal. O Brasil de Fufuca é o mesmo de Toffoli, sem surpresa.
E por falar em corrupção – se é que ainda importa – o novo ministro do Esporte tem seu nome envolvido em denúncias faz tempo. Além disso, apesar do tom de indignação contra o impeachment de Dilma Rousseff, nem o presidente da República nem o seu ministro da Justiça se importam com o fato de Fufuca ter votado a favor do tão criticado processo. E certamente não se importaram com a repercussão negativa da demissão de Ana Moser como preço a pagar em troca de apoio negociável de pastosa base parlamentar.
Na nota oficial de confirmação da “reforma ministerial”, a já ex-ministra não recebeu sequer uma expressão de agradecimento. Embora não tenha tido tempo de mostrar serviço, mereceria o mínimo de gratidão. Até pelo que se prestou ao discurso de gênero. A vitrine de uma mulher, atleta ilustre, no ministério do Esporte, não resistiu por um ano ao pragmatismo político – eufemismo para a condescendente partilha miúda de poder no Planalto Centrão.

Tags

Autor