CORRUPÇÃO

Desinteresse da população anima ladrões

Para um problema que não sai da realidade brasileira há décadas, a falta de interesse é preocupante

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Cadastrado por

JC

Publicado em 17/09/2023 às 0:00
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Quando recursos da saúde, da educação, do saneamento ou da cultura, de qualquer fonte pública que deveria chegar ao benefício dos cidadãos, são desviados para outros propósitos, o alerta dos órgãos de controle da execução orçamentária, do sistema judiciário e da própria cidadania deve ser acionado. A corrupção dilapida o patrimônio de uma nação, impede a redução da desigualdade social e atrasa o desenvolvimento coletivo. Dessa forma, o combate aos ladrões que se aproveitam das demandas do povo precisa ser permanente, com prevenção ativa e garantia de punição, sem demora, àqueles que usurpam o poder de fazer o bem para espalhar péssimos exemplos e suas consequências, muitas de longa duração.
Pesquisa divulgada na semana passada detectou um sintoma de cansaço popular, diante do tema que não sai da pauta e do noticiário nacional. E se torna ainda mais grave o resultado, em face da revogação institucional dos julgamentos da operação Lava Jato, que desvendou um dos maiores esquemas de corrupção desde a redemocratização. Os brasileiros estão saturados de saber que política e bandidagem se misturam bastante no país, e não apenas nos governos, mas também nos parlamentos e nas instâncias do Judiciário. A saturação parece tão grande que parcela da população não quer nem mais saber do assunto.
Na agenda nacional prioritária que aparece no radar Febraban/Ipespe, saúde e emprego são os principais temas indicados. A corrupção e a reforma tributária ocupam o final da lista, com 4% e 3%, respectivamente, despertando baixo interesse. Quase 30% dos brasileiros pedem foco na saúde. Emprego e renda vêm em seguida, com 27% de menções. A educação é preocupação central para 15%, enquanto a inflação é um problema sério para 8%. A fome e a pobreza, por sua vez, foram mencionados por 6% dos entrevistados.
O pior do levantamento é que nenhum dos demais temas poderá ser devidamente atendido se a corrupção prosseguir retirando dinheiro dos objetivos a que se destinam projetos, programas e ações de governo. Enquanto os desvios persistirem, a miséria, a insegurança alimentar, o déficit habitacional, a qualidade sofrível da educação e do atendimento à saúde vão continuar – e podem até piorar, porque os corruptos roubam o futuro. São ladrões que não se importam com a dura realidade para a maioria, e até se servem dessa condição de sofrimento para perpetuar promessas jamais cumpridas.
Além disso, cabe refletir acerca do papel da Justiça – na verdade, da prevalência da injustiça – em intermináveis processos que adiam e terminam reduzindo as penas para os envolvidos em atos de corrupção. Como o povo também está cansado de ver os mesmos políticos de sempre, acusados de vários casos, exercendo mandatos com tranquilidade, impunes e roubando mais, acha melhor virar os olhos para outro lado, e considerar a corrupção como um fato dado. O que tal retrato da impunidade pode causar à ética de uma nação já marcada por profunda desigualdade? E o que pode sair daí, na perspectiva política?
Para que a corrupção volte a ser tema da atenção dos brasileiros, o combate ao assalto do dinheiro público tem que ser sério e mostrar resultados, e não retrocessos típicos de uma justiça casuística e comprometida com os acusados.

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