PNI: 50 anos de ciência e vacinas
Plano Nacional de Imunizações criado em 1973 é responsável pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros
Há uma relação compreensível entre o aumento médio do tempo de vida da população e o advento de conquistas da ciência, especialmente a possibilidade de imunização contra doenças que mataram muitas pessoas em gerações não tão distantes da nossa. O que não é fácil de compreender é por que parcela da população mundial, inclusive no Brasil, tem perdido o hábito de se vacinar e, o mais grave, de levar as crianças para tomarem doses de vacinas imprescindíveis para o controle de males que não assustam mais devido, justamente, à eficácia das vacinas. Ou não assustavam, pois com o afastamento da cobertura vacinal ideal, diversas doenças podem retornar, causando sofrimentos e mortes que poderiam ser facilmente evitadas.
A poliomielite é o exemplo clássico de um poder de prevenção testado e comprovado há cinco décadas, e ratificado com as vacinas que impediram a continuidade da alta mortandade verificada no início da pandemia de Covid – que levou até agora mais de 700 mil brasileiros por complicações decorrentes do coronavírus. Estima-se que mil crianças no mundo ficavam sem o movimento das pernas, por dia, devido à poliomielite. A chegada da vacina mudou radicalmente esse quadro, retirando o medo das famílias e erradicando a enfermidade na maioria dos países. Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem expressado preocupação, nos últimos anos, a respeito da volta da pólio, em face do recuo da vacinação – após muitos anos, foi registrado um caso no Peru. Outro exemplo é a varíola, que infectou 300 milhões de pessoas no século passado, e foi controlada pelas vacinas.
Considerada tão importante quanto o saneamento e o acesso à água potável, a vacinação pode ter representado o aumento de 30 anos na expectativa média da população do planeta, nos últimos dois séculos. Essa mudança significou uma revolução etária que empurrou a última faixa de vida humana para a faixa dos 90 aos 100 anos, com um aumento cada vez mais dos idosos centenários. No Brasil da década de 1970, a média da duração de vida não passava de 45 anos, e hoje passa dos 75. Para isso, a influência do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é inegável para os cientistas.
Impulsionado com a Constituição de 1988, através da capilaridade proporcionada pelo SUS, o PNI completou 50 anos ontem. Oportunidade para se lembrar a necessidade das campanhas permanentes de vacinação infantil, bem como de atualização, quando indicado, para os adultos. Cabe aos governos em todos os níveis um reforço de comunicação e de atuação em prol das vacinas, para que a saúde pública possa garantir uma melhor qualidade de vida a todos, da infância à maturidade. A negação da eficácia das vacinas é parte do negacionismo atrelado à pandemia, que espalhou desinformação junto com o vírus. As mentiras em forma de fake news, contestando o valor da imunização, como doenças do espírito da época, devem continuar sendo combatidas, a exemplo das doenças que afligem a humanidade.