Cidades travadas
Ranking de congestionamentos é o retrato dos problemas acumulados no transporte, em todo o país
Vem de um aplicativo de geolocalização e orientação no trânsito o panorama mais recente dos nós que estrangulam os deslocamentos nas grandes cidades brasileiras. De acordo com o Waze, o planejamento urbanístico de Brasília não foi suficiente para impedir a explosão de engarrafamentos na capital federal, primeira no ranking de congestionamentos do país. Onde o crescimento urbano se fez sem o devido controle - a maioria das cidades - as dificuldades no transporte também se refletem no aumento de engarrafamentos.
Na comparação do tempo perdido no trânsito este ano, em relação ao ano passado, houve crescimento de 35% em Brasília e 33% em Goiânia. Porto Alegre e Fortaleza vêm em seguida, com 31% e 30% de aumento, respectivamente. O Recife, que já desponta em levantamentos internacionais por causa do tráfego complicado, aparece como a segunda capital mais congestionada no Nordeste, com 23% a mais de tempo emperrado nas ruas e avenidas este ano, e a pior em agosto. Nesse mês, a capital pernambucana foi a quarta do ranking nacional, atrás apenas de São Paulo, do Río de Janeiro e de Belo Horizonte. Nada surpreendente para os habitantes e os visitantes que percorrem o Recife diariamente, com a sensação de que faltam caminhos para carros entulhados que parecem ir sempre para o mesmo destino.
Mais uma vez, os números e a evolução do entupimento das artérias urbanas vêm mostrar, com a clareza de sempre, as consequências da inversão de prioridades que desconsidera a necessidade urgente de investimentos em transporte público de qualidade, em especial por trens e metrôs, mas também nos ônibus que podem ser integrados ao sistema metroviário. Os engarrafamentos poderiam ser evitados, ou minimizados, com a mobilidade garantida em sistemas coletivos eficientes, confortáveis e seguros para a população. Na Região Metropolitana do Recife, onde a gestão articulada do transporte entre os municípios e o governo do Estado ainda é uma promessa, os congestionamentos também representam o fracasso do Metrô e a insuficiência do transporte rodoviário. Além disso, há décadas os gestores públicos não demonstram a visão correta de longo prazo que privilegie o transporte coletivo, ao invés de modais individuais que não resolvem, e ainda pioram a situação geral da falta de mobilidade.
O ranking do aplicativo é mais um argumento a favor de políticas públicas que não se resumam a estimular mais do mesmo, como tem feito o atual governo federal. É preciso buscar soluções que promovam a ampliação dos modais, dando preferência para os sistemas coletivos em detrimento dos automóveis, por exemplo. Se a capital federal e metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife dão sinais do esgotamento da mobilidade no Brasil, também são cidades com potenciais de desenvolvimento de alternativas sustentáveis e inteligentes para o deslocamento das pessoas, diariamente. Para tanto, não faltam recursos – mas vontade política, quase sempre falta.