População de 60 ou mais no mercado de trabalho
Prolongamento da vida ativa e necessidade de renda fazem com que os idosos mergulhem na informalidade
Mais de 4 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais de idade estavam no mercado informal, trabalhando sem carteira assinada, no segundo trimestre deste ano. Um contingente recorde para o período desde 2015, no acompanhamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua. Um aumento de praticamente 5% em relação ao mesmo período em 2022, e de 36% em comparação a 2020, durante a pandemia. Esse crescimento aponta para questões estruturais que persistem na economia, e na configuração da sociedade. O etarismo é uma delas, com a desvalorização dos mais velhos pelo mercado – em muitos casos, para se remunerar menos, aproveitando a disponibilidade de profissionais mais jovens. Outra questão é a falta de oportunidades de trabalho, de modo geral, que afeta os idosos em particular, empurrando-os para a busca de meios de vida na informalidade.
O envelhecimento populacional reserva um futuro de dificuldades para uma nação com mais idosos. E é aí que os gestores públicos e a economia precisam se preparar melhor para acolher a experiência e o conhecimento acumulados pelos mais velhos, na faixa etária acima dos 60 anos, com expectativa de vida para até mais de 90. Segundo a PNAD, apesar de o número total de informais no Brasil ter diminuído, a quantidade de idosos na informalidade vem crescendo. A geração de postos de trabalho formais para os idosos desponta como algo fundamental para o amadurecimento econômico para sustentar um desenvolvimento de longo prazo. Sem o apoio dos mais velhos, um desequilíbrio social e previdenciário ainda maior pode surgir em poucos anos.
O risco de uma população amadurecida sem renda é um espectro que deve ser levado em conta pelo planejamento econômico e pelos gestores públicos. Quanto mais atrasada a estratégia para o enfrentamento do problema, maiores as consequências do déficit de formalidade para a atividade produtiva dos idosos, e para o desenvolvimento nacional. A taxa de informalidade para a faixa etária segue acima dos 54%, chegando a perto de 70% nos estados da região Norte, e 60% em alguns estados do Nordeste, como o Maranhão e o Piauí.
A atração de idosos para a carteira assinada é um movimento essencial para se elevar a qualidade de vida da população, uma vez que o idoso ou idosa, na imensa maioria das vezes, reparte os frutos de seu trabalho com as gerações mais novas da família. Assinar a carteira de trabalho de quem tem mais de 60 é também o reconhecimento ao saber trazido ao longo do percurso, e uma demonstração de respeito. Por outro lado, a transição dos fazeres na sociedade contemporânea pode constranger os idosos a procurarem vagas formais, por falta de capacitação adequada. Investir nos recursos humanos de mais idade deve ser visto como uma ação de caráter social, e objetivo econômico – onde todos ganham, enquanto é aproveitado o potencial criativo de cada indivíduo, por mais tempo.