MUDANÇA CLIMÁTICA

Crise chega na Amazônia

Seca baixa o nível dos rios, mata animais e lança temor sobre os efeitos de uma mudança drástica na região

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JC

Publicado em 04/10/2023 às 0:00
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Além do derretimento de geleiras, incêndios florestais e recordes de temperatura em várias cidades do mundo, inclusive no Brasil, o aumento do calor na Terra pode estar conectado com a morte de animais na Amazônia, que já sofre as consequências devastadoras de uma grande seca no principal rio da região. Mais de uma centena de mamíferos aquáticos foram encontrados mortos nos últimos dias, suscitando ações emergenciais de pesquisadores para descobrir as causas e buscar alternativas para preservar a biodiversidade. Um indicador preocupante é a temperatura da água no Lago Tefé, alcançando quase 40º Celsius, dez graus acima da média, e ameaçando diversas espécies. A hipótese mais forte da alta mortandade é a água escaldante, que transforma o lago em um verdadeiro caldeirão.
Um mutirão para salvar os animais está em curso, e as populações locais foram alertadas para os riscos de se banhar e utilizar o lago. A febre no lago e a seca no rio mostram a dimensão de um desequilíbrio ambiental acelerado, de consequências que podem se espalhar rapidamente. Os ecossistemas estão interligados, e o desajuste em um pode afetar os demais. A interferência humana nas mudanças climáticas que se acentuam, ano após ano, pede a adoção de atitudes preventivas que, a esta altura, nem se sabe qual eficácia teriam. Mas não urgentemente necessárias. “A tendência, se não mudarmos os nossos hábitos, é que esses eventos continuem acontecendo: mais aquecimento global, mudança nos parâmetros climáticos”, disse a pesquisadora Miriam Marmontel, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “A água que não está propícia para o boto também não é propícia para o humano”, ressaltou.
A estiagem fez com que a Prefeitura de Manaus antecipasse o fim do ano letivo nas comunidades ribeirinhas. Quase todos os municípios do Amazonas estão sofrendo com a seca. A temperatura na capital registrou 39,7º na última segunda-feira, um recorde na cidade. O Rio Negro, um dos mais importantes, passa por uma redução de volume que deve ainda chegar ao ápice neste mês de outubro. Com o Solimões, é ainda pior, tendo o nível baixado 30 centímetros por dia. Como o transporte escolar é em grande parte fluvial, as aulas que dependem do Rio Negro precisaram ser encerradas duas semanas mais cedo, porque não há perspectivas de recuperação de navegabilidade nesse período. Vale mencionar que o calendário escolar obedece ao regime dos rios, indo de janeiro a outubro. Nas escolas à beira do Rio Amazonas, as aulas estão remotas, por causa da estiagem.
As águas mais quentes do Oceano Atlântico, combinadas com o rigor do fenômeno El Niño, que aquece o Oceano Pacífico, são fatores que explicam o tamanho da seca na Amazônia. Mas o que pode vir daí, ainda é da ordem da especulação, embora o pessimismo dos ambientalistas cresça junto com a gravidade dos efeitos das mudanças climáticas em diversos pontos da Terra. Se a maior floresta tropical do planeta continuar a apresentar sinais de degradação, o que pode acontecer com a vida atrelada às condições ambientais sustentadas por ela?

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