MUDANÇA CLIMÁTICA

Efeito do medo é desigual

Desigualdade na percepção não reduz o risco para todos, mas os mais vulneráveis são de fato mais expostos aos eventos extremos do clima

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JC

Publicado em 11/10/2023 às 0:00
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A ocorrência de tempestades e ondas de calor deve continuar nos próximos meses no Brasil, sob a influência do fenômeno El Niño, agravado pelas consequências já perceptíveis do aumento médio da temperatura dos oceanos no planeta. Sobretudo as fortes chuvas ameaçam a infraestrutura nos centros urbanos, e também as populações que moram e trabalham nas margens de rios e riachos em diversos pontos do país. Mas a percepção do risco desses eventos que podem vir por aí, e já deixaram rastro de estragos e até mortes nos últimos anos, é regida pela desigualdade. O reflexo está no medo maior que afeta os brasileiros pretos, pardos e pobres, em relação à perspectiva de eventos climáticos extremos, por se sentirem – e estarem – mais expostos ao perigo representado pelas mudanças do clima.
Pesquisa realizada pela primeira no Brasil pelo Greenpeace, em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), revela que 70% das classes D e E se acham inseguras diante de desastres provocados por eventos climáticos. Nas classes A e B, a percepção cai para 56% - ou seja, quase a metade dos mais ricos acredita estar em segurança no enfrentamento desses eventos, embora o clima não separe locais para as manifestações extremas. No entanto, em face da profunda desigualdade vista no país, não é surpresa que os mais vulneráveis sejam os mais pobres, e com isso, sintam mais medo. Basta ver a realidade na capital pernambucana: os moradores das palafitas e das encostas dos morros já sofreram com enxurradas, e sabem que correm grande risco, a cada precipitação violenta.
Os números indicam uma sensação geral de inquietação e vulnerabilidade para os potenciais problemas advindos dos eventos climáticos que começam a fazer parte do cotidiano da Terra, de maneira alarmante. Da seca na Amazônia às enchentes no Rio Grande do Sul, o território brasileiro não está imune aos efeitos das mudanças que alteram o regime de chuvas e provocam a elevação das temperaturas e a intensificação de estiagens. Para os dirigentes do Greenpeace, a pesquisa serve como mais um elemento para a população pressionar o poder público a implementar medidas preventivas que reduzam o risco para as populações mais expostas.
O levantamento ainda demonstra o baixo grau de confiança dos cidadãos na capacidade das gestões municipais de lidarem com a questão. Nas capitais, quase 80% dos entrevistados não confia na ação das prefeituras visando reduzir o impacto dos desastres climáticos. Trata-se de constatação daquilo que não foi feito até agora, e do que os desastres já deixaram no país, elevando o temor generalizado que se amplia nas parcelas mais pobres do povo brasileiro. Para reverter tal percepção, e tentar minimizar o caos e as mortes que podem vir novamente, será preciso reverter a prioridade comum do poder público, que investe em outras coisas enquanto o necessário vai ficando para depois.

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