Terrorismo do Hamas
A natureza de um ataque bárbaro e cruel, típica dos radicais do terror, deve ser posta num plano diferente da opressão vivida pelo povo palestino
Os atos macabros e desumanos do último sábado em Israel, que se prolongam com a manutenção de reféns presos não se sabe em que condições, não pedem meias palavras, nem qualquer hesitação em sua definição. O ataque foi uma ação terrorista típica de cartilha conhecida, com assassinatos em massa depois da invasão do território israelense, e o sequestro de pouco mais de uma centena de civis, pelas estimativas disponíveis, entre os quais podem estar pessoas de outras nacionalidades, inclusive brasileira. A complexificação da situação com o passar dos dias tão pouco permite a negação do método terrorista em curso, sob o planejamento e a execução do Hamas – um grupo terrorista, que se desdobra em braço político para dominar e oprimir um povo sem Estado nem esperança, como os palestinos.
É crucial que não se perca de vista a nítida distinção entre a causa palestina, em busca de terra própria há décadas – como os israelenses já foram – e a ascensão de um grupo terrorista que se aproveita da vulnerabilidade das condições de vida na Faixa de Gaza para consumar o ódio extremista contra inocentes em uma festa, em casa ou no meio da rua. A brutalidade inconteste dos ataques do Hamas não pertence ao campo da guerra tradicional, embora muitas vezes governos nacionais hajam com a mesma brutalidade, equiparando-se a terroristas ao invadir e lançar mísseis contra populações indefesas. O Hamas é uma mostra do que o terror pode fazer, e há grupos maiores, como o Hezbollah, cuja participação no atual contexto é temido por exibir o potencial de ser ainda pior.
Difícil é compreender a hesitação do Itamaraty em considerar o terrorismo efetuado como fato dado, alegando a tradição diplomática brasileira como fator de cautela – que não se justifica perante a ação do sábado e seus desdobramentos, como a guarda de reféns. A apresentação da dúvida ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre a presidência do Brasil, pode soar algo deslocada da realidade para líderes de outros países e a opinião pública internacional. Quanto mais as cenas do terror praticado pelo Hamas são difundidas, menos plausível se torna a demora da diplomacia brasileira para reconhecer aquilo que todo o mundo enxerga, à exceção das minorias radicais.
A condenação formal dos atos em si, bem como a preocupação externada com a escalada de hostilidades no Oriente Médio, embora coerentes com o papel de equilíbrio que o Brasil procura exibir no mapa global, carecem de maior engajamento político no esclarecimento que deve servir de norteador para uma solução do conflito. Se a solução para a paz depende de variáveis históricas que não eximem a responsabilidade de Israel no isolamento social e econômico de Gaza, ao gosto do Hamas, por outro lado, é impossível defender a sensatez, quando se minimizam ou se relativizam os crimes contra a humanidade, praticados por um grupo terrorista.