TRANSPORTE

Aumento de motos não resolve

Novos números sobre a explosão do uso das motocicletas por aplicativos revelam dificuldades da população para se locomover

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JC

Publicado em 14/10/2023 às 0:00
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O transporte remunerado de passageiros por motocicletas continua a disparar no Brasil, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, expondo usuários e condutores ao risco, e evidenciando a demanda reprimida por sistemas coletivos. Além disso, também salta aos olhos a preferência de parcela da população por uma alternativa mais rápida, embora insegura, de locomoção, em detrimento de ônibus superlotados em intermináveis engarrafamentos, ou de um metrô sucateado que apresenta quebras constantemente. Essas opções causam transtornos conhecidos, e pertencem ao cotidiano dos cidadãos na Região Metropolitana do Recife, onde os serviços de aplicativos de transporte em duas rodas aparecem no vácuo de modais de transporte dignos e eficientes.
De acordo com pesquisa da startup de tecnologia de mobilidade e logística Gaudium – concorrente da Uber e da 99 – houve um aumento de 14% na demanda por corridas de mototaxi no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período no ano passado. De 2021 a 2022, a variação foi de 84% a mais na demanda, com destaque para a região Sudeste, que ultrapassou no ano passado o Nordeste em faturamento com as mototáxis. A atratividade do preço e do tempo menor para o deslocamento tem sido aceita pela população como justificativa para embarcar nesse modelo de transporte. Uma agilidade que pode custar caro, como destacou o JC na série de reportagens sobre o perigo em duas rodas.
As pessoas recorrem às motos em função da falta de oferta de serviços de transporte coletivo que garantam conforto, segurança e rapidez. O que eleva o risco individual e transforma a vantagem da garupa barata em fenômeno econômico e social com sérias repercussões na saúde pública. Em 2021, quase 44% das mortes no trânsito brasileiro envolveram ocupantes de motocicletas. No ano passado, o SAMU metropolitano do Recife atendeu a 3.900 chamados de atendimentos a vítimas em motos, sendo menos de 10% - 353 chamados – para vítimas em automóveis. Somente nos quatro primeiros meses de 2023, foram quase 1.500 chamados para atendimentos a vítimas em motos, contra 112 de carros.
A insegurança visível nas ruas, com passageiros, muitas vezes, sem os equipamentos adequados para o transporte, é agravada pela baixa fiscalização. Além de não ofertar um transporte coletivo de qualidade para a população, o poder público faz de conta que o problema das viagens de motos por aplicativo não é de sua responsabilidade. O mesmo tipo de silêncio que se viu, durante anos, diante da degradação do Metrô do Recife, que continua com os mesmos problemas, mas sob a promessa de investimentos articulados entre os governos federal e estadual. O melhor sistema de transporte coletivo – por trilhos – nunca recebeu a prioridade que deveria no Brasil, e no país, está em Pernambuco um exemplo clássico de descaso.
Embora pareça ao cidadão uma escolha oportuna para o deslocamento imediato, o aumento de mototáxis não resolve nada em termos de mobilidade coletiva. Pelo contrário, no atual cenário, piora o trânsito, e ainda faz dos passageiros reféns da sorte.

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