Equador pode ter novo horizonte
Eleição de um presidente jovem, com discurso de centro, traz a expectativa de superar a violência política e devolver estabilidade ao país
O empresário e deputado Daniel Noboa foi eleito presidente dos equatorianos, no último domingo, para um mandato tampão de apenas um ano e meio, após a crise institucional que resultou na saída de seu antecessor e na dissolução do parlamento, a partir de mecanismo legal que dá uma espécie de boot no sistema representativo federal, afetando o chefe do Executivo e o poder Legislativo. Cenário de violência política patrocinada pelo narcotráfico que pressiona o país, transformado em local de escoamento para drogas produzidas em outros lugares, o Equador aposta na renovação, com um governante de apenas 35 anos. Apesar da tradição embutida no sobrenome – seu pai concorreu à presidência mais de uma vez e não se elegeu – o futuro presidente chega como novidade, gerando expectativas, e com muitos desafios a enfrentar em seu curto mandato.
A vitória do presidente mais jovem a governar o Equador também foi a derrota para um ex-presidente refugiado no exterior, por não poder voltar, com a prisão decretada por corrupção. Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017, está na Bélgica, mas teve sua candidata, Luisa González, em segundo lugar, perdendo por pequena margem para Daniel Noboa. A população ficou dividida, mas preferiu apostar em alguém desvinculado das denúncias de corrupção que fizeram Correa fugir. Na primeira manifestação após a vitória. Noboa resumiu o sentimento dos que optaram por ele: sua missão é “devolver o sorriso, a paz, a educação e o emprego ao país”. No contraste com essa imagem, surge a sombra de uma nação triste, imersa em cotidiano violento, e mergulhada na desigualdade e em problemas sociais.
Não será possível atender a tantas e tão profundas demandas em um período de um ano e meio, claro. Mas o clima para reformas amplas é compartilhado até pela candidata derrotada, que reconheceu a vitória do oponente, valorizou o processo democrático, no telefonema de praxe, afirmando: “Pode contar com os nossos votos na Assembleia para as reformas legais, de segurança, saúde, educação, para o que precisar”, ressalvando propostas de privatização, já que o novo presidente venceu levando para debate o ideário liberal.
O Equador, aliás, mantém o centro no poder após a saída de Correa, que permaneceu por uma década em governo de esquerda. O maior problema equatoriano, hoje, não é a ideologia, nem o tamanho do Estado – mas a crise gerada pela insegurança que vem da violência comandada pelos líderes do tráfico de drogas, além das fronteiras nacionais. Nos últimos dois anos, o índice de assassinatos triplicou, em decorrência do narcotráfico que faz do país um ponto de partida para os mercados de maior consumo, no hemisfério norte. Para atacar a violência, Noboa quer abrir vagas e oportunidades na educação, promete criar barcos-prisões, estimular o investimento estrangeiro e o empreendedorismo.
Se conseguir ao menos abrir o horizonte do país em crise, o novo presidente pode despontar como líder não apenas no Equador, mas na América Latina.