A irrelevância da ONU
Assim como a invasão da Ucrânia pela Rússia foi condenada pelas Nações Unidas, qualquer resolução da entidade global sobre o conflito em Gaza não fará diferença
Como era previsível, a passagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por Israel, ontem, não deu em nada. Nem deixou de respaldar a guerra, garantindo o que Netanyahu tem chamado de “próxima fase”, nem se apresentou para realizar a mediação na direção da solução dos dois Estados, que levaria à formalização do reconhecimento da soberania dos palestinos, em Gaza e na Cisjordânia. No ápice de uma crise humanitária de largas proporções, agravada por manifestações populares em cascata, nos países árabes, depois da destruição de um hospital cheio de pacientes e equipes médicas – de autoria incerta, elevando a chama da disputa de narrativas – Biden manteve distância do problema, apesar de prometer continuar financiando as armas israelenses.
Enquanto isso, em Nova York, a Organização das Nações Unidas (ONU) segue buscando relevância para a diplomacia global. Sequer a pausa para atender aos feridos, prevista em resolução articulada pelo Brasil no Conselho de Segurança, pôde ser aprovada, apesar de contar com o apoio da ampla maioria dos integrantes do conselho. Como os integrantes permanentes têm a prerrogativa do veto, a representante norte-americana fez uso dela, e frustrou os brasileiros. Mesmo que fosse aprovada, no entanto, dificilmente seria posta em prática: as resoluções da ONU estão cada vez mais inúteis, sem consequências práticas, evidenciando o descrédito e a baixa influência política da entidade. Se dependermos da ONU para acreditar na paz, vamos continuar nos chocando com repetidas cenas de terror e guerra.
A Rússia pretende convocar a Assembleia Geral para votar uma moção contra Israel, da maneira como os próprios russos foram condenados pela invasão à Ucrânia. Se as mortes e a destruição do país de Zelenski prosseguem sem horizonte de término, é razoável supor que uma resolução pela suspensão do conflito na Faixa de Gaza não teria a menor consequência sobre a realidade. Neste caso, ainda mais, por causa da possibilidade de ações terroristas do lado de fora da região ocupada pelos palestinos, em Israel e em outros lugares. A aprovação de textos que levam dias para serem montados, infelizmente, reflete a incapacidade da diplomacia global, instalada na ONU, de atuar solidamente pela pacificação e pelos direitos humanos – como já fez no passado: o trabalho marcante de um brasileiro, morto em plena atividade, conta bem essa história. Mas Sérgio Vieira de Mello não estaria coletando assinaturas para fazer de conta que a ONU existe.
A irrelevância das decisões e das reuniões emergenciais de embaixadores graduados é um triste sinal de que a população mundial está entregue às más escolhas de líderes que não hesitam em optar pela retroalimentação do ódio e pelo aumento bilionário do gasto bélico, para transformar a defesa em ataques, e se comportar como terroristas, matando inocentes anônimos. As grandes potências do planeta já fizeram muito isso, sem se importar com os discursos e resoluções de nações unidas na paralisia.