FAIXA DE GAZA

Urgência de humanidade

Impasse político e diplomático precisa ser destravado para abrir a fronteira e deixar entrar água, comida e remédios para a sobrevivência de milhões de pessoas

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JC

Publicado em 21/10/2023 às 4:00
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Sem que a situação de extrema necessidade imposta para todos os habitantes, e também às mais de duas centenas de reféns do grupo terrorista Hamas, tenha surtido o efeito esperado pela estratégia de cerco total dos israelenses, a Faixa de Gaza se transforma num campo de bombardeio, onde não há comida, nem água, remédios ou esperança. Os relatos dramáticos que ultrapassam as fronteiras graças à comunicação, contam quase em tempo real a história de uma tragédia – israelense, palestina e de todo indivíduo que se vê, ali,
sem saída diante da história, sem horizonte para distinguir o futuro.

Infelizmente, a mesma contundência que garante recursos e força para a vingança e a contenção das
barbáries do terror, não se recorda de ensinamentos muito antigos, segundo os quais é preciso se compadecer do sofrimento alheio, e não embarcar no olho por olho do ódio, para que a humanidade não se lance num abismo sem volta.

Após a longa demora para um desespero que só aumenta, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que os primeiros caminhões com suprimentos e ajuda humanitária devem cruzar os portões de Rafah neste sábado, onde milhares de estrangeiros e palestinos estão aglomerados, no aguardo de algum sinal de que o mundo se importa, e eles não são reféns, como os capturados pelo Hamas. Duas semanas após a investida brutal e desumana dos terroristas, que matou centenas de inocentes em Israel, e sob a expectativa da incursão das Forças Armadas israelenses por terra, no que sobrou de Gaza, a população de mais de dois milhões de palestinos enfrenta privações severas, sofrendo fome, sede e a dor de milhares de feridos – com a contagem de mortos se elevando, diariamente, pelas explosões que não cessam, e pelo salvamento médico que não chega.

Mais da metade das vítimas fatais é composta por mulheres e crianças. Diversas dúvidas e temores dificultam a realização da entrada de ajuda humanitária no solo minado de Gaza. Como será controlada a entrada dos caminhões, e a distribuição de suas cargas, sem que o Hamas assalte os carregamentos? Quais os critérios para distribuir o que for possível entrar pelo Egito, uma vez que a demanda é muito maior? E como evitar que a abertura da fronteira não resulte num caos ainda mais imprevisível, do que o vivido por quem está do lado de dentro de Gaza nestes dias de horror e terror, quando a empatia pelo sofrimento do outro parece estar suspensa, tão interditada quanto se apresenta a ação diplomática pela paz?

Importa abrir uma chance para os que permanecem vivos. Há uma urgência de humanidade para a Humanidade, na passagem entre o território egípcio e o pequeno pedaço palestino dominado pelos terroristas. No exercício de otimismo relutante, o melhor é ter fé que a ajuda vai chegar, e começar a conduzir bom senso e alguma disposição de pacificação a todos que se movem pela mágoa e pela ira, transmitidas por gerações.

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