POLUIÇÃO

Plástico mata o futuro

Recifes de corais do arquipélago de Fernando de Noronha estão entre os mais poluídos por resíduos plásticos e materiais de pesca, no mundo

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JC

Publicado em 17/11/2023 às 0:00
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A biodiversidade dos recifes de corais segue sob grande ameaça em diversas partes da vastidão de água nos oceanos do mundo. O depósito de materiais poluentes cresceu bastante nas últimas décadas, com destaque para os resíduos plásticos e apetrechos de pesca deixados no mar, como redes, anzóis e linhas de pescar. Dois arquipélagos no Brasil conhecidos pelos seus corais despontam entre os mais poluídos do planeta: Fernando de Noronha e o de São Pedro e São Paulo, junto a outros na África e nas Filipinas. Mergulhadores têm encontrado sinais da presença humana predatória no fundo do mar, onde o lixo representa um risco cada vez maior às espécies marinhas, já pressionadas pelas mudanças climáticas que provocam o aumento da temperatura média dos oceanos.
O plástico é especialmente danoso, por atrair os animais que o confundem com alimentos, e terminam sufocados e mortos. Segundo estimativas da Oceana Brasil, 1 em cada 10 bichos marinhos perdem a vida por causa da poluição plástica no país. As montanhas desse material são vistas em diversas regiões da Terra, e a quantidade assustadora de um caminhão de lixo plástico por minuto já foi indicada, para dar a dimensão global do problema. Em outra estimativa, ambientalistas calculam que 100 mil bichos dos mares são mortos anualmente pela poluição plástica. O planeta vai sufocando, a cada animal marinho sufocado, a cada recife de coral bloqueado pelos detritos.
Embora seja difícil a mudança cultural para a eliminação do plástico no consumismo humano, há urgência evidente na adoção de materiais biodegradáveis na pesca, a fim de minimizar os males já provocados aos ecossistemas. No caso dos recifes, a poluição detectada é indício de atividades de pesca mais distantes do litoral, dizimando espécies que se encontravam relativamente seguras. E assim a biodiversidade se exaure. Muitos peixes que eram comuns nos arquipélagos brasileiros, inclusive em Fernando de Noronha, não são mais encontrados. Por maiores que tenha sido as restrições para o turismo e a pesca em Noronha, não foram suficientes para evitar a poluição, o ataque aos corais e o sumiço de espécies.
O alerta sobre os recifes de corais diz respeito a estruturas vivas de extrema importância para o planeta. Algas e outros organismos vivem nos recifes, integrando uma rede biológica que interessa, também, aos seres humanos poluidores. De acordo com a entidade Coral Vivo, essas formações respondem por 10% de toda a proteína animal consumida na Terra. Várias substâncias dos corais são aproveitadas pela indústria farmacêutica, impondo razão adicional de preservação. Enquanto paredes naturais submersas, os recifes de corais ainda protegem a costa contra erosão e os efeitos de tempestades – um tipo de construção da natureza que pode fazer muita falta a cidades litorâneas, em decorrência das mudanças climáticas.
Restaurar essa barreira natural e a plenitude se suas condições de abrigar a vida marinha é tarefa de toda a humanidade. A continuidade da subtração da biodiversidade em nossas águas é incompatível com a qualidade de vida desejada para as próximas gerações. O que o plástico mata é o futuro.

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