Intervalo para a esperança
Pausa para a troca de reféns por prisioneiros interrompe a destruição das cidades palestinas, mas a caça aos terroristas do Hamas logo deve continuar
De um lado e de outro, as consequências de um ataque terrorista estão presentes na dor e na ansiedade das famílias, em Israel, na Faixa de Gaza e onde haja judeus e palestinos em todo o mundo. Com obstinação inclemente, as Forças Armadas israelenses avançam sobre as ruínas de Gaza, à procura dos integrantes do Hamas nos subterrâneos de hospitais, escolas e assentamentos de refugiados, e até no interior de ambulâncias. A barbárie do terror provocou reação sem precedentes, e não tinha pausa prevista, antes de as negociações abrirem uma chance para a troca de reféns sequestrados de Israel, por prisioneiros palestinos capturados, ao longo dos últimos anos, pelos israelenses. Por um intervalo que não se sabe o quanto se prolonga, o silêncio deve soar como uma dádiva para os habitantes e reféns em Gaza, todos acuados pela violência.
O primeiro saldo da troca deu conta de 24 reféns liberados pelo Hamas, de 50 supostamente esperados nesta rodada, e 39 palestinos presos libertados por Israel. O cessar-fogo ensejou o milagre da renovação da vida para quem saiu da realidade por mais de um mês, após o ataque terrorista de 7 de outubro. Do lado palestino, a conquista da liberdade não pode ser celebrada sem a destoante nota de ter sido fruto de uma ação covarde do Hamas. Levando em consideração o número estimado de reféns ainda em poder dos terroristas, assim como a reafirmação do governo de Benjamin Netanyahu de esmagar o foco do terror em Gaza, a perspectiva é que de continuidade do fogo incessante a consumir vidas não tarda. Pois nada leva a supor que o terrorismo em nome da causa palestina vá cessar, ou soltar os reféns de uma vez.
De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, exemplos recentes mostram que as pausas nos conflitos entre israelenses e palestinos tendem a não funcionar, ou tão pouco durar. Há registros de cessar-fogo na área em 2008, 2009, 2012, 2014, 2021 e este ano, em maio, meses antes do maior ataque terrorista a Israel, e da maior contraofensiva já realizada por Telaviv. Agora, o que se divulga é um freio de quatro dias para tornar possível a liberação de reféns, e um respiro no sofrimento desumano da população de Gaza.
Para o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, as negociações bem-sucedidas por reféns podem elevar, nos próximos dias, a força bélica de Israel sobre o território palestino, em busca dos componentes do Hamas. Meyer ainda revelou cautela sobre a eficácia da trégua, porque muitas pessoas de fora das negociações, dos dois lados, podem voltar a recorrer a violência, de maneira autônoma, sem respeitar a pausa. “O cenário ainda está meio embaçado. As coisas não estão muito claras”, disse o embaixador, em entrevista ao UOL.
A expectativa sempre se desanuvia, contudo, durante o intervalo de uma trégua. Por alguns dias, a expectativa dá lugar à esperança de que a insensatez seja vista, identificada e renegada, para dar lugar ao bom senso e espaço de ação para a paz.