SEGURANÇA

Plano contra a violência

A redução da criminalidade em Pernambuco ganha um programa ousado, com metas que irão requerer integração e muito trabalho para serem alcançadas em três anos

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JC

Publicado em 29/11/2023 às 0:00
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O lançamento do programa Juntos pela Segurança, na última segunda-feira, representa o marco inicial de uma das maiores apostas do governo Raquel Lyra. Entre as principais aflições dos pernambucanos, a insegurança que faz os cidadãos terem medo de sair de casa – e até de ficar em casa – também inibe o crescimento econômico e a justiça social. O crime organizado se alastrou no estado, dominando áreas urbanas e paraísos turísticos, como Porto de Galinhas. A juventude é sequestrada pelos traficantes, e muitos adolescentes são levados ao caminho das drogas para buscar uma alternativa à vida de privações na pobreza, ou na miséria. As mulheres são forçadas a lidar com a ameaça constante da brutalidade doméstica, que pode culminar em feminicídio. No transporte público, nas ruas, no Centro do Recife e de outras cidades, a sensação generalizada é de desamparo, pela repetição de assaltos e furtos que afastam as pessoas da convivência.
Depois de pelo menos uma década de retrocesso, a política de segurança ganha um novo norte: fazer a taxa de mortes violentas chegar a 30 por 100 mil habitantes em 2026, o que seria o menor índice desde 1985 – portanto, recuperando um patamar que já era alto, como reconhece a governadora, 40 anos mais tarde. O primeiro passo é baixar a maré da violência, pelo menos, ao nível dos indicadores nacionais, para daí continuar evoluindo na redução da criminalidade estadual. Os planos anunciados vão requerer integração dentro do governo, por diversas secretarias, e entre o Executivo e os demais poderes, especialmente o Judiciário. Como o pacote também incide sobre dificuldades estruturais, prevendo investimentos em novas delegacias, mais vagas penitenciárias e melhoria em ações preventivas como iluminação, por exemplo, as decisões terão que ser tomadas sem demora, e as obras, realizadas com urgência, para que o cronograma de metas não seja prejudicado. Afinal, são apenas três anos para uma mudança de quatro décadas.
Vale conferir a dimensão das diminuições esperadas. Foram 3.426 mortes violentas intencionais em 2022, e devem ser até 2.398 em 2026. No ano passado, foram anotados oficialmente 50.218 crimes contra o patrimônio, número que deve ficar em no máximo 35.152 em três anos. Os 43.778 registros de queixas de violência contra as mulheres precisarão baixar para 30.644, no período. Como todas as estatísticas se referem ao ano passado, e em 2023 podem ser ainda piores, as metas provavelmente irão demandar esforços mais intensos do que esses dados indicam.
O lançamento de um programa com tal magnitude merece atenção de especialistas e da população. Assim como o acompanhamento de sua execução, a partir do anúncio feito. Como os pernambucanos já viram em outras ocasiões, e estão cansados de ouvir nas notas oficiais, não basta a disposição para reduzir a insegurança e a violência. É preciso que um bom plano se transforme em realidade – e a expectativa da população não é outra.

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