Um país no acostamento
Nova pesquisa da CNT mostra a permanência da má condição das estradas no Brasil, com a necessidade de investimentos urgentes de requalificação
Com mais de dois terços da malha rodoviária avaliada como regular, ruim ou péssima, a economia nacional, baseada no transporte sobre rodas, poderia estar bem melhor do que está. O que significa que o país deixa de gerar empregos e distribuir renda para os cidadãos, por causa dos obstáculos no meio dos caminhos. Riscos, prejuízos e atrasos dominam as travessias em estradas cheias de buracos, mau sinalizadas e congestionadas nos arredores dos grandes centros urbanos e polos regionais, sem rotas alternativas para os fluxos de cargas, passageiros e motoristas que viajam a negócio ou lazer. É como se o Brasil aguardasse no acostamento, enquanto a realidade rodoviária, ao invés de ajudar, atrapalha o desenvolvimento coletivo.
Na mais recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada esta semana, menos de um terço, ou 32% das rodovias, encontra-se em bom ou ótimo estado de trafegabilidade e conservação. A situação é um pouco pior do que mostrava a pesquisa no ano passado, com 66% de regular a péssimo, e 34% de bom e ótimo. É a 26ª avaliação realizada, levando em conta mais de 111 mil quilômetros de vias pavimentadas em todo o território nacional, incluindo quase 44 mil quilômetros de trechos estaduais. Em nosso estado, um dos gargalos é o atraso na construção do Arco Metropolitano, que se arrasta há anos, fazendo com que a falta de mobilidade num dos principais pontos para o desenvolvimento crie um custo Pernambuco incontornável, agregado ao custo Brasil. Sem o Arco, já perdemos oportunidades de investimentos, e seguiremos perdendo competitividade no Nordeste, parados no engarrafamento da indecisão.
O cenário adverso no plano nacional demonstra, mais uma vez, a urgência para a aplicação dos recursos prometidos pelo PAC, do governo federal, da ordem de R$ 185 bilhões para estradas e transporte rodoviário – dos quais menos de 40% previstos de investimento público, sobrando a maior parte para atração de parcerias privadas. E é bom que isso aconteça logo, com iniciativas dos governos para buscar o dinheiro e viabilizar as obras, já que o setor sofreu uma redução de 4,5% no orçamento de 2024. Somente para ações emergenciais e manutenção na malha rodoviária, são estimados gastos de R$ 94 bilhões em todo o país. Para se ter uma ideia da distância entre a demanda e os investimentos realizados, para este ano, dos R$ 15 bi autorizados para infraestrutura rodoviária, apenas R$ 9 bi haviam sido executados até setembro.
Sendo o principal modal brasileiro, o transporte rodoviário merece mais atenção, até do ponto de vista prático: a condição das estradas eleva, em média, quase um terço os custos operacionais dos deslocamentos, gerando um consumo acima de R$ 7 bilhões em diesel, por exemplo. Para sair do acostamento e voltar ao rumo do desenvolvimento, não há como o país continuar desprezando o atraso e os problemas que se acumulam nas rodovias – e na falta delas.