Adolescentes longe dos livros
Baixo índice de leitura entre estudantes de 15 e 16 anos no Brasil é reflexo da falta de políticas públicas para bibliotecas, entre outros fatores
Sem que o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) alcance a realidade, apesar das boas propostas que contém, o Brasil continua sendo um país de muitos leitores potenciais, com baixo índice de leitura – e consequentes resultados insatisfatórios em provas internacionais e nacionais de compreensão e interpretação de texto. Crianças e adolescentes, de modo geral, são pouco estimulados a estar com livros nas mãos, ou mesmo suas telas preferidas com textos literários acesos. A falta de incentivo pode vir do pouco hábito dos pais, da precariedade dos acervos escolares e da insuficiência de políticas públicas ativas, que adotem a premissa, de uma vez por todas, que o desenvolvimento social se atrela à evolução individual relacionada à jornada dos leitores – jornada que depende, essencialmente, da intimidade com os livros.
Tendo por base estatística os resultados da prova internacional do Pisa de 2018, um estudo feito pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educaional (Iede), em parceria com o aplicativo de leitura Árvore, mostra que os estudantes brasileiros de 15 e 16 anos são os que menos mais de 100 páginas no ano, na América do Sul – menos de 10% dos adolescentes. No Chile, o índice é de 64%. Como o JC registrou na edição de ontem, dois terços dos brasileiros da amostra afirmaram que o texto mais longo lido não passou de 10 páginas. E para quase 20%, a leitura máxima foi de uma página, ou menos. Um retrato fiel das dificuldades encontradas para trazer parte das gerações mais novas para o mundo da leitura – que também pode ser o do conhecimento, da capacidade crítica e da formação profissional.
Para os realizadores da pesquisa, a preocupação se expande porque não diz respeito apenas ao consumo de livros. “O hábito leitor tem influência não só na proficiência em leitura, mas também em outros resultados educacionais e socioeconômicos”, ponderaram os analistas. E a relação com o desempenho é objetiva: aqueles estudantes que leram textos com mais de 100 páginas obtiveram notas melhores no Pisa de leitura, matemática e ciências. Dos que leram até uma página, somente 6% chegaram aos mesmos padrões de compreensão.
Dentre os motivos que fazem do Chile uma nação de leitores desde cedo, estão os frutos de um programa nacional de fortalecimento das bibliotecas escolares, em vigência de décadas, que põe o ambiente escolar orbitando ao redor das bibliotecas. As mesmas bibliotecas que, no Brasil, são na grande maioria dos casos deixadas em segundo plano, sem investimentos nem atenção. Mas não é por falta de arcabouço institucional, já que o PNLL e o PNLE (que abrange também a escrita) foram pensados também com esse propósito. Falta investimento de longo prazo, dos municípios, estados e do governo federal, que traduza a escolha de fazer dos livros o principal instrumento de mudança social e desenvolvimento coletivo. As bibliotecas escolares devem estar nos orçamentos públicos, cumprindo as diretrizes dos planos, ou nada acontece.