INSEGURANÇA

Medo é consequência da violência

Sensação generalizada de apreensão nos pernambucanos vem de longo tempo de criminalidade fora do controle do Estado

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JC

Publicado em 05/12/2023 às 0:00
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Assim como as vítimas de violência doméstica sofrem por vários anos, mesmo depois que o causador do sofrimento se afasta ou é preso, a população penalizada pela rotineira ação dos criminosos revela um trauma que não se esconde. Com o objetivo de embasar as novas políticas de segurança, integradas em programa recentemente lançado pelo governo de Pernambuco, uma escuta espontânea aos cidadãos revelou alto índice de medo: 77% dos entrevistados afirmaram temer assaltos e outros tipos de violência, sobretudo nas ruas e avenidas – no espaço público – a qualquer hora do dia. Um reflexo nítido da exposição à criminalidade durante anos, sem que os governos, os gestores da segurança e as forças policiais conseguissem reverter o aumento da sensação de desproteção.
Sensação que brota da realidade cotidiana, em que os assaltos à luz do dia se sucedem como se não houvesse policiamento, nem Justiça para punir os fora da lei. Do Centro do Recife às cidades no interior, passando pelas áreas dominadas pelo tráfico de drogas nas periferias da capital e de outros municípios da Região Metropolitana, o espaço público afugenta, ao invés de atrair para a convivência. Medida óbvia para inibir a ação dos bandidos é proporcionar iluminação adequada nas ruas e praças, até para melhorar a visibilidade das imagens de eventuais câmeras de monitoramento. O novo programa Juntos pela Segurança incorpora essa e outras medidas, voltadas para a prevenção dos crimes, que também podem ter efeito na redução do medo nas pessoas – afinal, um ambiente iluminado e propício à convivência transmite mais confiança do que um lugar ermo em que ninguém quer nem passar.
Sintomática é a indicação de que mais da metade dos cidadãos escutados disse ter medo de ir às praças e parques no estado. Porque se sentem inseguros, não apenas pela precariedade da iluminação a certa altura da tarde, mas pela repetição de episódios de assalto a qualquer momento. Além da insegurança conhecida no transporte público – nos ônibus, terminais e metrô – quase 30% dos pernambucanos teme andar no transporte próprio, seja carro, moto ou bicicleta, pelo mesmo motivo. As ruas e avenidas não inspiram confiança para o exercício do direito à mobilidade. O aumento de furtos e roubo de veículos, nos últimos anos, elevou também o medo da população que transita no estado.
O mais grave é que quase um quarto dos cidadãos declarou ter sofrido algum tipo de violência nos últimos doze meses. Um dado de alerta para o nível de estresse de quem vive em Pernambuco. O novo plano de segurança do governo Raquel Lyra traz como meta a diminuição em 30% dos crimes, o que já configura um grande avanço, se concretizado, em comparação com as últimas décadas. Somente a partir daí outras metas poderão ser pensadas, como o aumento necessário da sensação de tranquilidade para a maioria dos pernambucanos.

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