Futuro sem horizonte
Mais uma vez, os resultados do Pisa mostram a dificuldade do Brasil para encontrar um rumo de aprendizagem que leve a melhores caminhos para a população
Há anos, os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) sintetizam o descaso dos governos, no Brasil, com a educação. E suas repercussões que se propagam dos alunos sem a formação adequada a jovens despreparados para o trabalho, mas não só isso – para a vida. Porque a compreensão proporcionada pela apreensão de conhecimentos vai muito além da abertura de oportunidades profissionais, embora isso venha a ser um dos efeitos mais visíveis. A educação abre horizontes desde o instante em que a realidade, compreendida, permite a leitura de si e do mundo de forma construtiva, solidária e crítica, formando cidadãos para viver em sociedade.
Os novos dados do Pisa ratificam o despreparo dos estudantes brasileiros, e afundam mais uma vez a nação no complexo de inferioridade. Mas não é culpa dos jovens, que são vítimas e podem perder caminhos potenciais por não terem acesso ao aprendizado de qualidade. A questão é da responsabilidade dos políticos que governam, em todos os níveis, sem o discernimento para a importância da educação, e sem saber como fazer para tirar o país do poço da avaliação internacional em ensino básico. Mesmo que não faltem boas experiências, e boas ideias, como a ampliação da escola integral, o país como um todo não sai do canto. Nem seria preciso reinventar a roda: em outros locais do planeta e em muitas escolas e municípios brasileiros sobram exemplos de excelência que podem ser replicados em escala. Para variar, o que não há de sobra é vontade política.
No ranking do Pisa, numa lista de 81 países, o Brasil ficou em 65º lugar em matemática, 53º em leitura e 61º lugar em ciências. Desde 2009, pequenas variações nas notas obtidas apontam uma triste estagnação no aprendizado. O que significa, após quase 15 anos, que novas gerações encontram os mesmos obstáculos para desenvolver seus potenciais, e por tabela, ajudar a desenvolver o país. Pouco mais de um quarto dos estudantes brasileiros avaliados alcançou o patamar básico esperado de conhecimento em matemática. Apenas 1% conseguiram resolver problemas complexos. Em leitura, o desempenho foi melhor, mas o patamar básico de compreensão se limita à metade dos avaliados. E em ciências, o patamar básico só foi atingido por pouco menos da metade.
A expectativa para a implementação do Sistema Nacional de Educação, articulando iniciativas e programas de todos os níveis de governo, lança para a próxima edição do Pisa, daqui a três anos, a perspectiva de algum sinal de melhora. Mas é necessário que a visão política mude, com mais recursos aplicados na direção certa. É o caso das bibliotecas escolares, como já frisamos em editorial recente: fortalecer as bibliotecas escolares e seus profissionais, fazer delas o centro de irradiação dos saberes, valorizar a literatura como instrumento de evolução da criticidade, muito além da cultura do livro paradidático, talvez seja a mais promissora rota para a transformação social no Brasil.