Que seja um ano de conciliações

Talvez fosse improvável supor, há três anos, que o mundo sairia de uma pandemia que trouxe mortes, medo e isolamento, com sangue nos olhos para matar semelhantes, conquistar territórios, compartilhar discórdias e aprofundar intolerâncias. Mas é o que testemunhamos no pós-Covid, e no ano que se encerrou ontem. Apesar dos muitos e longos abraços do retorno ao convívio social, da retomada de parte das pessoas em ritmo e propósitos diferentes para viver, no plano coletivo, e num panorama geral, a humanidade parece ter escolhido o caminho errado de alguma crucial bifurcação. Segundos os mais pessimistas, na verdade, a suspensão pandêmica do giro do mundo já teria sido um sintoma de erros que vêm se acumulando lá de trás, de muito antes da atual geração chegar.
Mas todo dia 1º de janeiro há uma chance de reboot no sistema mental que nos governa. Temos a oportunidade, enquanto indivíduos, de refletir sobre quem somos e o que desejamos para nós mesmos, a vida ao nosso redor e o futuro que vamos deixar para outros cuidarem, descendentes ou não. Celebrado como o Dia Mundial da Paz, o primeiro dia de cada ano deveria servir como pausa obrigatória de revisão de modos, modelos e insistências que se propagam na rotina, automaticamente, e desembestam na ladeira cronológica das agendas e calendários.
O tempo passou pior, em 2023, do ponto de vista da perspectiva planetária. Precisamos de um 2024 melhor. Com menos obtusidade e mais abertura de espírito. O que não se anuncia com o que temos pelas últimas notas do ano transposto. Até o Papa Francisco, um guerreiro da pacificação e da conciliação, virou alvo da intolerância, por buscar ampliar o arco da compreensão e da convivência humana. Mas os detratores do bom senso, que cultivam os arames farpados dogmáticos, não querem conversa com a paz, em qualquer instância. A arte de forjar inimigos continua em alta no século 21, nas relações pessoais ou nas relações internacionais, de onde os conflitos armados geraram o maior consumo de mísseis e balas da história da civilização.
Na contramão do fracasso humano, o Brasil oferece aos brasileiros um ambiente propício a conciliações, após a ressaca da pandemia e da eleição mais radicalizada que já tivemos, com riscos institucionais claros, em 2022. Mas a nação continua patinando em diversos aspectos, travado por disputas de poder entre os poderes e pela visão restrita de gestores públicos em vários níveis de governo. As lideranças de maior porte escasseiam, aqui como no resto do mundo, justamente quando dilemas fundamentais pedem a confiança em um líder respeitável.
Assim como no país, avançamos pouco em Pernambuco, diante do muito a recuperar. Contudo, como já frisamos neste espaço, contamos com uma nova geração de políticos no poder, nos quais a população do estado e da capital deposita a esperança que resta para a construção de um futuro melhor.