População segue endividada
Quase 72 milhões de cidadãos continuavam pendurados em dívidas em novembro, apesar do programa federal que atendeu mais de 10 milhões de pessoas
Balanço registrado pelo colunista do JC, Fernando Castilho, mostrou que o Programa Desenrola Brasil, lançado em julho do ano passado pelo governo Lula, não foi suficiente para reduzir a massa de endividados no país. Até 31 de dezembro, o Desenrola alcançou 10,7 milhões de brasileiros, renegociando R$ 29 bilhões em dívidas bancárias e não bancárias, a exemplo de contas de energia, água e educação. O programa foi prorrogado até o fim de março, para buscar ampliar o alcance, já que o número de endividados, que era de 71 milhões em setembro, ao invés de cair, aumentou para perto de 72 milhões em novembro.
Os dados do Serasa indicam que muitos entraram na lista de negativados, embora outros tenham conseguido “limpar o nome” com o apoio do Desenrola. Provável reflexo de uma economia vacilante entre a recuperação lenta e os problemas estruturais que persistem desafiando o crescimento em níveis sustentáveis, que representem um salto no desenvolvimento social. A parcela endividada da população continua alta, mesmo com o mutirão pela regularização dos pagamentos, porque a desigualdade permanece acintosa, as oportunidades que podem gerar aumentos na renda familiar ainda não proliferaram, e no cotidiano real do povo, a pobreza e a miséria continuam impondo restrições severas à qualidade de vida, inclusive para a classe média.
“Isso não quer dizer que o Desenrola Brasil não tenha sido importante”, pondera o colunista do JC. “Mas os números do Serasa mostram que ele não tem instrumentos para resolver a questão do endividamento do brasileiro, e que serão necessários mais instrumentos”, diz Castilho. A equipe econômica do governo federal pode criar novos meios de atenuar o endividamento, no entanto as contas vão continuar não fechando para muita gente, enquanto os gastos familiares obrigatórios – para usar um jargão orçamentário – seguirem sem a cobertura necessária de fundos. Enquanto a prosperidade não for maior e melhor distribuída, o endividamento da população não será facilmente superado.
Com renda limitada, o cartão de crédito é um recurso comumente utilizado, até quando uma dívida se atenua para dar lugar a outra. Segundo o Serasa, se em julho os devedores no cartão eram de 29,5%, esse percentual praticamente se manteve estável em novembro, com 25,9% de pendurados. Mais de três quartos dos endividados, ou 77%, recebe até três salários mínimos mensais. Para tal público, a solução para se livrar das dívidas é aumentar a renda. Para tanto, é preciso mais oportunidades, em uma economia mais dinâmica que propulsione a distribuição para esse contingente de brasileiros.
Como isso não se ocorre da noite para o dia, uma estratégia ativa de ir até os devedores aliviaria a carga para muitos que não têm conhecimento sobre se podem se beneficiar do programa. Uma extensão para além de março também seria interessante, para acolher a população vulnerável sem condições de quitar seus débitos – e que certamente precisam contrair novas dívidas.