Investimento na proteção de vidas
Anúncio de aplicação de quase R$ 49 milhões em área de tragédia mostra a preocupação para que as mortes não se repitam
As tempestades de verão no Sudeste e no Sul do país trazem de volta aos pernambucanos a lembrança de chuvas trágicas, como a que matou mais de 20 pessoas em 2022. O local marcado pelos deslizamentos, o Jardim Monte Verde, receberá R$ 48,9 milhões em obras de urbanização e contenção das encostas. A previsão é de que tudo esteja realizado até o final de 2025, uma vez que a previsão é de 18 meses de obras, mas antes há a fase da contratação. Infelizmente, portanto, outros dois invernos se passarão, sob a expectativa de segurança definitiva para os habitantes.
O senso de urgência que move a iniciativa, mais de um ano após o início do atual governo, é freado pela burocracia costumeira. A gestão pública brasileira é conhecida pela lentidão, mesmo nos casos em que a emergência dá o tom das promessas. O importante é o reconhecimento da prevenção como instrumento de proteção das vidas, e do direito que os moradores da região atingida possuem de continuar ali, com melhores condições de habitabilidade. Chance que a maioria dos ocupantes de áreas de risco, em todo o território nacional, não têm, a menos que algo trágico suceda.
Na esquina entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes, em área limítrofe motivo de controvérsia entre as prefeituras – e desamparo para a população – o Jardim Monte Verde ganha a atenção devida do governo do Estado, que cumpre o papel de cuidar da vida dos cidadãos, ao tomar decisão acima das querelas políticas. Segundo a secretária estadual de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Simone Nunes, as estatísticas apontam essas regiões “onde há dúvidas sobre se o lugar pertence a um município ou a outro” como lugares onde ocorrem mais mortes em desastres climáticos. “São locais desassistidos e esquecidos”, pontua a secretária.
Locais quase invisíveis, poderíamos acrescentar, quando uma enxurrada retira com violência o manto da invisibilidade. Tirar essa gente do esquecimento é fundamental, expandindo a assistência cabível para outros locais como o Jardim Monte Verde. Ao reconhecer tal regra e fazer dela referência no anúncio de obras preventivas, o governo Raquel Lyra abre o leque da necessidade de investimento sobre as áreas de risco em condições similares, como sugere a secretária Simone Nunes. Certamente o mapeamento das prioridades já deve estar disponível.
Além do revestimento rochoso de proteção, a comunidade ao invés do risco 24 horas por dia, irá contar com praças dotadas de brinquedos e outros equipamentos de lazer. Orientações aos moradores quanto à habitação também serão transmitidas no projeto de urbanização. Um banho de dignidade em substituição ao drama com desfecho trágico, quase dois anos atrás, quando 134 pernambucanos perderam as vidas em decorrência das chuvas – e da omissão. Que o Jardim Monte Verde, renascido, venha a ser um modelo de ação replicado em vários lugares de Pernambuco, sem que o sofrimento precise ser a causa das providências.