CHUVAS

Para evitar mortes previsíveis

Governantes precisam assumir suas responsabilidades, investindo em medidas preventivas e retirando pessoas das áreas de risco

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JC

Publicado em 28/01/2024 às 0:00
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Há uma espécie de “tempestade perfeita” assustando os brasileiros. Mas para a população, não se trata de uma conjunção de fatores raros, e sim, de uma justaposição de causas repetitivas que resultam em severas consequências para o cotidiano, sempre que a chuva forte aparece em uma cidade ou região. De um lado, o rigor do clima afetado pela poluição no planeta é agravado por fenômenos a cada ano mais intensos, em função das mudanças advindas do aumento da temperatura média na Terra. De outro, a falta de ações guiadas por políticas preventivas capazes de impedir os estragos de alagamentos e enxurradas, ao longo das últimas décadas, preparou um cenário caótico para a violência das águas – em movimento natural que deixa mais ruínas e sofrimento, devido à imprevidência de governantes sucessivos que naturalizam as catástrofes, e até buscam tirar proveito político delas.
Nos últimos dias, temos visto o drama da chuva na Bahia, em São Paulo, no Rio de Janeiro, e em parte do Sul. O medo de deslizamentos de terra e de alagamentos une a população urbana da maior metrópole da América Latina aos moradores do interior do Nordeste. Em comum, além do temor da ferocidade das nuvens, a desesperança em governos que agem, na maioria dos casos, como burocratas da tragédia, aguardando desastres inevitáveis, fazendo discursos que se dirigem à imponderabilidade da natureza, e prometendo ações inéditas que jamais se tornam realidade.
De 1991 a 2022, o país perdeu 4.111 vidas em decorrência de tempestades – ou melhor, do despreparo em relação às adversidades crescentes do clima. O levantamento foi feito pelo jornal Folha de S. Paulo, com base em dados oficiais do governo federal. Desse total, mais de 1.500 foram no estado do Rio de Janeiro. Os gestores públicos, de todos os níveis de governo, em geral respondem à vulnerabilidade explícita mostrando cifras milionárias ou bilionárias de investimentos para a proteção de moradores das áreas de risco. Infelizmente, a estatística das mortes nas últimas três décadas demonstra que as medidas ou são ineficazes, pedindo melhor aplicação dos recursos, ou são necessários mais bilhões de reais para dar conta das demandas.
Enquanto quase dois terços das mortes foram no Sudeste, a segunda região mais afetada foi o Nordeste, com pouco mais de 15% dos óbitos no período. Na região nordestina, Pernambuco aparece disparado na frente, com 283 mortes, ao passo que a Bahia registra 107 vítimas fatais, Alagoas 61 e o Ceará, 54, mesmo número do Maranhão. Se os governantes em todo o território nacional devem se preocupar de maneira urgente com as condições estruturais para evitar mortes com as chuvas, os gestores públicos pernambucanos têm motivos maiores para redobrar a atenção. O mapeamento das áreas de risco já existe. O que falta, aqui e em outras partes do país, é a decisão política para fazer o que é preciso ser feito, inclusive alterando a ocupação de lugares que não poderiam, sequer, ter sido ocupados, em virtude do risco imposto aos moradores.

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