MUDANÇA CLIMÁTICA

Desertificação em Pernambuco

Tendência identificada na região Norte da Bahia também foi verificada, pela primeira vez, em Petrolina e Belém do São Francisco

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JC

Publicado em 04/02/2024 às 0:00
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Por meio de metodologia utilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), pesquisadores brasileiros concluíram que há sinais de desertificação em seis cidades no Norte baiano, numa extensão territorial que avança além da fronteira com Pernambuco. Os municípios de Petrolina e Belém do São Francisco, no Sertão, aparecem de forma inédita, em nossa época, como detentores de clima árido. A média de chuvas e evaporação foi medida durante 30 anos, de 1990 a 2020, e os resultados indicaram a mudança que preocupa cientistas, gestores públicos e a população da região.
O aquecimento global e seus efeitos, nas últimas décadas, como o aumento da temperatura média na superfície da Terra e a intensificação de fenômenos climáticos extremos, é apontado pelos cientistas como a causa da desertificação em evidência. O calor maior faz com que a demanda por evaporação cresça, deixando o clima mais árido em partes do planeta. Com isso, a perspectiva climática sugere uma preparação para a convivência com a falta d’água que deve decorrer da situação. O aviso é direcionado para os governos e a população, que já vem sentindo a alteração nos últimos anos, confirmada agora pela ciência.
Professor da UFPE, o geógrafo Daniel Rodrigues de Lira afirmou que a aridez em solo pernambucano não surpreende, pois há indícios dessa condição milhares de anos atrás, e a vegetação já dava sinais de que o clima poderia estar se modificando. O crescimento da aridez no Brasil vem sendo vista há algum tempo, do Nordeste até a Amazônia, passando também pelo Centro-Oeste e por territórios no Sudeste. Desde 2021, a Embrapa fez um prognóstico onde mostra que 123 dos 184 municípios de Pernambuco correm o risco de desertificação. Portanto, com o agravamento das mudanças climáticas, era de se esperar que a tendência ganhasse relevo.
O que a desertificação no país pode trazer – mesmo que não crie vastos desertos – é um maior rigor na segurança hídrica, perda de biodiversidade, risco de extinção de espécies e, do ponto de vista humano, a aceleração de ondas migratórias em direção aos centros urbanos, com o crescimento de populações pobres e vulneráveis em aglomerados desprovidos de bases ideais de habitabilidade. Para evitar essa fuga em massas, os especialistas recomendam investimentos na adaptação à aridez, como o incremento da irrigação, o uso eficiente da água e a melhoria do tratamento de esgoto. O reflorestamento é outra medida que pode desacelerar o processo de desertificação, a partir da amenização do clima para conter a evaporação. As sugestões para o novo diagnóstico devem ser incorporadas ao Plano de Combate à Desertificação, de âmbito nacional, com duas décadas de existência. Os estados hão de se juntar ao esforço da gestão pública, com o objetivo de enfrentar as mudanças, dar apoio à população e contribuir para que medidas emergenciais diminuam os impactos da disseminação da seca que pode piorar nessas áreas, nos próximos anos.

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