Emergência da saúde no Brasil
Declaração da ministra Nísia Trindade reduz expectativa sobre a vacina, e eleva a responsabilidade dos gestores públicos para conter o avanço do mosquito no país
Poucos anos depois das cenas traumáticas do atendimento às vítimas de Covid em hospitais de campanha, com leitos de terapia intensiva lotados nas unidades hospitalares, algumas cidades brasileiras voltam a ver a emergência no meio da rua: o aumento de casos de dengue faz com que grandes cidades, como Brasília e São Paulo, já estejam oferecendo testagem e averiguação de sintomas em estruturas provisórias, específicas para a epidemia que se delineia em grande parte do território nacional. A incidência de casos disparou, e deve continuar crescendo nos próximos meses, de acordo com os especialistas, até que a mudança do clima atinja a velocidade de proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão da dengue e de outras arboviroses.
Em declaração feita na última quarta, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, descartou a vacina disponível, importada, como solução para o controle da atual situação no país. Para a ministra, isso seria “vender uma ilusão”. A ministra defende a intensificação do combate aos focos de proliferação do mosquito, como medida preventiva capaz de mudar o quatro atual. Os focos de reprodução do Aedes aegypti se aproveitam da água parada em depósitos mínimos, como uma tampa de garrafa, e sua eliminação depende do comportamento da população – mas sobretudo dos gestores públicos. Mas da gestão local ao governo federal, no primeiro ano de Nísia Trindade na pasta, houve notória falha preventiva, cujas consequências são visíveis hoje, no descalabro de casos que pressiona mais uma vez o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços privados – até na rede particular a substância imunizante contra a dengue já começa a escassear.
Embora a vacinação pública esteja prevista para começar nas próximas semanas, para poucas cidades e apenas na faixa etária mais vulnerável, de 10 a 14 anos de idade, o governo federal, através da ministra da Saúde, aponta a baixa disponibilidade de doses como um problema que pode ser resolvido no futuro, com a produção própria em laboratórios nacionais. No entanto, para o que já está acontecendo, a melhor estratégia é fazer o que não foi feito de modo eficaz até agora, e já no atual governo Lula: a prevenção contra a dengue.
O monitoramento federal é importante para avalia o cenário e as perspectivas de aumento da epidemia em escala nacional. E a orientação do Ministério da Saúde, assim como na pandemia, deve pautar ações coordenadas nos estados e municípios, tanto para os cuidados preventivos, quanto para a aplicação das doses disponíveis de vacina e para a eventual ampliação da estrutura de tratamento dos sintomas. Mesmo não sendo uma ameaça tão grave quanto a Covid, a dengue gera efeitos severos no organismo, pode sobrecarregar o atendimento, causar muitos transtornos e sofrimento à população. Além de consequências sociais e econômicas atreladas ao ciclo da doença. Mais uma vez, o mosquito leva vantagem, diante do atraso de providências e da precaução mal planejada pela gestão pública brasileira.