DEMOCRACIA

Escudo contra conspirações

Investigações da Polícia Federal que evidenciam tramas golpistas só ocorrem porque as instituições vêm assumindo a defesa do País

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JC

Publicado em 11/02/2024 às 0:00
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A documentação em vídeo de uma reunião entre altos escalões do Executivo, meses antes das eleições presidenciais, pode ser inserida num processo de ataque à democracia que não se reduz a um episódio. A conspiração em curso em 2022 é a sequência do discurso de 7 de Setembro de 2021, que alertou o país para aspirações pouco republicanas do então presidente da República. Depois, vieram o não reconhecimento da derrota eleitoral e o 8 de janeiro de 2023, na mesma linha de ameaça à normalidade democrática. Felizmente, as bases institucionais brasileiras se mostraram sólidas o suficiente para assimilar e tornar descabidas as intenções golpistas. Prevaleceu não apenas o resultado das urnas, mas sobretudo, foram sustentados valores que não se dobraram a manipulações e aventuras cerceadoras da liberdade e dos direitos dos cidadãos.
A defesa inabalável da democracia faz parte da prática jornalística, assim como de outros profissionais que expressam, pelo trabalho, o apreço pelos ideais que se traduzem na busca de tolerância, justiça, empatia, solidariedade e, na ponta que mais importa, de qualidade de vida para todos, representado pela conquista de direitos individuais e pelo respeito aos deveres coletivos. Sem importar de onde venha o risco, no círculo ideológico onde as extremidades radicais desprezam o Estado Democrático e sonham com o jugo autoritário no exercício do poder, qualquer conspiração à democracia há de ser rechaçada pela imprensa livre, assim como pelo cidadão ciente do longo caminho na história humana para a libertação dos desvios totalitários.
As lamentáveis declarações de uma reunião ministerial, registradas e preservadas não se sabe com que propósito, reforçam a necessidade de instituições independentes e atuantes, para que sejam acionados mecanismos de proteção da democracia ao menor sinal de ameaça. Inclusive quando a forma ameaçadora se apresentar no assalto à nação por servidores corruptos, como mais de uma vez no passado não tão distante. O poder hipertrofiado tem como um de seus tentáculos a desfaçatez dos corruptos, que se acham acobertados pela impunidade. Não por acaso, os desvios de recursos são costumeiros em regimes autoritários. A relação entre governos de exceção e a corrupção não é secundária ou marginal, e sim, reveladora da essência da deturpação do poder em favor de minorias, grupos ou líderes que se enxergam imunes às leis, às críticas e à substituição do poder.
As presentes investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre os descaminhos da gestão Jair Bolsonaro devem ir adiante. Assim como toda suspeita sobre representantes do povo, agremiações partidárias ou integrantes de qualquer poder da República, inclusive o Judiciário, que indiquem abusos contra a democracia. Enquanto isso, as instituições precisam continuar se depurando e fortalecendo, para produzir anticorpos diante dos ardis que conspiram e dos esquemas que se abatem sobre a vulnerável máquina pública nacional. Instituições confiáveis são o mínimo para um país com tantos problemas e desafios, ainda, pela frente.

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