BRASIL

País violento para mulheres

Em uma década, quase dobraram os casos de agressões não letais, segundo o Instituto Igarapé

Imagem do autor
Cadastrado por

JC

Publicado em 22/03/2024 às 0:00
Notícia
X

Os feminicídios aparecem como a ponta do iceberg gigantesco da violência contra as mulheres no Brasil. Até que os assassinatos sejam consumados, sem que as vítimas tenham tido chance de evitar ou se defender, na maioria dos casos, dos próprios companheiros, um calvário de anos de sofrimento pode ter precedido a morte violenta. O mais grave é que se trata de um recorte de realidade aviltante, com séculos de história, e que ao invés de diminuir, vem se agravando, apesar dos esforços institucionais para conscientizar a sociedade sobre a importância da denúncia e da prevenção, afastando as mulheres dos conhecidos agressores.
Em parceria com a Uber, o Instituto Igarapé foi buscar nas estatísticas oficiais de saúde e segurança pública os indicadores da violência contra as mulheres no país. E o resultado é desanimador, na perspectiva de um cenário que piora, ao invés de ser combatido com eficiência. A sociedade continua machista, o machismo segue violento, e as autoridades de segurança pública, bem como a Justiça, não conseguem evitar o aumento das ocorrências e o sofrimento das mulheres. O crescimento de 92% na última década, e de 19% entre 2018 e 2022, nos casos de violência patrimonial, sexual, física e psicológica, evidencia o tamanho do desafio que é a articulação de uma rede de proteção para garantir a segurança feminina.
Uma das visões cruéis da questão é que muitas mulheres são vítimas repetidas vezes, seja por agressores reincidentes, seja por outros que reprisam o modelo da brutalidade no tratamento. Por isso é imprescindível a desnaturalização da violência, atacando seu aspecto cultural sem condescendência, porque a atitude violenta não é coisa de homem – e sim, de criminoso, que deve pagar por seus atos. A impunidade é outra face do problema, que deve ser vencida com grandes e inúmeros exemplos. Para que os casos não contundem a aumentar, as punições hão de aparecer, alertando os agressores de que a violência cobra seu preço.
Quando os dados demonstram um crescimento de 45% na violência sexual às mulheres de 2018 a 2022, dobrando em uma década, e registram 140 mil agressões físicas notificadas apenas no ano de 2022, os governantes não têm outra saída a não ser investir mais e melhor na proteção das mulheres. A violência diária cerceia o direito à liberdade e tolhe os potenciais femininos, restringindo o proveito da vida, na maioria das vezes, por causas de ameaças feitas dentro de casa. Em Pernambuco, os números vão na mesma direção: de 2022 a 2023, houve aumento de 24% nos primeiros seis meses, de denúncias de violência contra as mulheres. Foram mais de 25 mil ocorrências no estado, naquele período.
Para que as cidadãs sejam respeitadas em sua integridade, e possam viver em harmonia como desejarem, as agressões devem ter um basta. A violência às mulheres, enquanto não começar a ser vencida, é um sintoma de fracasso da nação brasileira.

Tags

Autor