RECIFE

Segunda capital mais desigual

Mapa da desigualdade volta a chamar atenção para característica antiga da capital pernambucana, que se agravou nas últimas décadas

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JC

Publicado em 27/03/2024 às 0:00
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O que se vê nas ruas como um anticartão-postal, e ao se adentrar nas comunidades recifenses, são retratos da indignidade por que passam cidadãos excluídos, cujos direitos elementares são solenemente ignorados pela gestão pública, e por parcela da sociedade, há muitos anos. Não é de hoje que o Recife se mostra como uma das cidades campeãs da desigualdade, no país que se destaca entre os mais desiguais do mundo. Desse modo, estamos no abismo do abismo social brasileiro, numa situação deprimente em um quadro geral nacional de desrespeito aos direitos humanos e de flagrante vulnerabilidade social, em decorrência – mas não somente – da baixa renda individual e familiar.
O Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) divulgou o Mapa da Desigualdade entre as Capitais do Brasil, num levantamento que leva em consideração 40 indicadores, que incluem dados referentes a temas como educação, saúde, violência e assistência social. De uma pontuação máxima de 1.040, o Recife fez apenas 392, ficando atrás de Porto Velho, em Rondônia, como a segunda capital mais desigual, entre as 26 capitais. A menos desigual é Curitiba, seguida por Florianópolis, Belo Horizonte, Palmas e São Paulo. Na região Nordeste, além do Recife em 25º lugar, Maceió aparece em 21º, Fortaleza em 20º e São Luís em 19º. A melhor colocada entre as nordestinas é Natal, na 12ª posição.
A pesquisa tem o objetivo de ampliar o conhecimento sobre o território nacional, a partir das diferenças entre as capitais, oferecendo “um sentido mais tangível para a distância que separa ricos e pobres, mulheres e homens, negros e não negros”, de acordo com a introdução do documento. Alguns pontos desse retrato panorâmico evidenciam a desigualdade entre as populações das capitais. Enquanto São Paulo possui 100% de cobertura de esgotamento sanitário, em Porto Velho esse índice não chega a 6%. Se Campo Grande apresenta pouco mais de 1% dos habitantes morando em favelas, em Belém, o contingente supera metade da população.
Essa não é a primeira vez, e não será a última, que a capital pernambucana – e também o seu entorno, e o estado – despontam na lista da desigualdade no país. Em 2021, Recife figurava como a segunda capital mais desigual, a partir do índice de Gini, enquanto Pernambuco, pelo mesmo índice, ocupava a quinta posição em 2022. Naquele mesmo ano, o Boletim Desigualdade nas Metrópoles apontou a Região Metropolitana do Recife como a que tinha o maior percentual de pessoas em extrema pobreza em todo o Brasil, vivendo em domicílios onde a renda per capita era menor que R$ 160 por mês.
O desafio para os pernambucanos, em especial para os gestores públicos, mas também para o empresariado e toda a população, é criar condições estruturais para a melhoria de um ambiente social degradado há muitas gerações. Cuidar da dignidade humana como prioridade, na gestão urbana, seria um primeiro passo – sempre deixado para depois.

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