DENGUE

Saúde pública em xeque

Mortes observadas pelo agravamento da arborvirose podem ser consequências do descuido dos pacientes e da falta de assistência adequada na rede pública

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JC

Publicado em 04/04/2024 às 0:00
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Estudo publicado por pesquisadores da Fiocruz, em análise das mortes por dengue no Brasil, avalia que fatores externos à doença podem estar sendo decisivos para o aumento dos óbitos. Especialmente na ponta do atendimento de saúde, onde os serviços inadequados, a superlotação e a demora provocam o agravamento de condições que poderiam ser evitadas. Além disso, os pacientes, desinformados, não prestam atenção na gravidade dos sintomas, e também podem retardar as medidas que garantem o restabelecimento da normalidade, expondo-se a maiores riscos. Ou seja, no exame da epidemia de dengue no país, sobressaem a desinformação da população e a baixa qualidade da infraestrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) para cuidar dos infectados.
Em três meses, 2024 já apresenta quase mil mortes confirmadas de dengue no Brasil, em 2,6 milhões de casos prováveis – e se sabe que a notificação oficial pode ser apenas parte da realidade. De acordo com os pesquisadores, é a negligência com a doença a principal causa de morte de pessoas contaminadas, porque se o atendimento e o cuidados forem feitos a tempo e da maneira correta, os riscos de óbito são mínimos. E não é difícil encontrar testemunhos de parentes que confirmam o vaivém nas unidades de saúde, sem o tratamento devido, culminando com a morte de pacientes com dengue. Nada que os usuários do SUS já não convivam diariamente, mas que, num caso de epidemia, se escancara e se torna ainda mais problemático.
Da parte da população, a procura pelo atendimento não deve esperar que a doença traga sintomas graves. É preciso manter a atenção, testar e buscar o tratamento que, na maioria dos casos, é efetivo, e previne complicações que levam a óbito. Mas mesmo nessa perspectiva, cabe aos governantes espalhar a informação e a conscientização para que as pessoas ajam, com a necessária precaução. Do governo federal aos municipais, a responsabilidade do gestor público também passa pelo combate à desinformação, e à difusão do conhecimento que já se tem sobre a dengue e seus desdobramentos.
A superlotação nas unidades atrasa o atendimento, e provoca, muitas vezes, a desistência de pacientes e familiares, que deixam para ir outro dia, enquanto a doença avança. Além disso, diagnósticos apressados e mal conduzidos, prescrições equivocadas e falta de estrutura mostram o quanto a saúde no Brasil demanda melhorias, para oferecer o direito básico à população. O fato de uma pessoa que morreu por dengue ter passado várias vezes pelo sistema de saúde, evidencia, para os pesquisadores, que “falta preparo dos profissionais e organização da rede assistencial para manejar o aumento da demanda com a necessidade de atenção individual”, assim como “instituir a terapêutica correta o mais célere possível”.
Os gargalos não são difíceis de identificar. O complicado é reconhecer o déficit estrutural, direcionar recursos e buscar um padrão digno de atendimento, a fim de evitar que as mortes pelo mosquito continuem a assustar os brasileiros.

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