TRÂNSITO

Segurança para as motos

Mais de três quartos dos atendimentos emergenciais do Corpo de Bombeiros em Pernambuco são de colisões e quedas envolvendo motociclistas

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Cadastrado por

JC

Publicado em 18/04/2024 às 0:00
Notícia

A migração do transporte público ineficiente para os aplicativos de motos gerou considerável aumento no uso desse tipo de transporte em todo o Brasil, especialmente nas grandes cidades, onde as consequências para o trânsito já conturbado são enormes. Para qualquer pessoa, a maioria dos trajetos pelas vias públicas se transformou em percursos arriscados, mas o perigo é maior para os passageiros desse modo quase improvisado de transporte. Os aplicativos exploram um nicho de oportunidade que se aproveita do vácuo de um serviço decente para a coletividade, a exemplo do lendário Metrô do Recife, cujo sucateamento desafia o tempo e atravessa repetidas promessas de mudança.
Entre as consequências, além do visível descontrole do tráfego desorganizado, está o crescimento de sinistros que exigem o acionamento dos Bombeiros para procedimentos de resgate. A situação é tão alarmante no estado que o Corpo de Bombeiros resolveu emitir um alerta à sociedade, a respeito do risco a que são expostos os passageiros e os motociclistas de transporte por aplicativo. Já que as instituições não conseguem regular a mobilidade, de maneira a garantir a segurança de quem se desloca, os profissionais que lidam diariamente com o problema chamam a atenção para o nível atingido: 77% das colisões registradas em 2023 tiveram como vítimas os condutores e passageiros de motocicletas. O número alto equivale a mais de três quartos dos 4.300 atendimentos realizados, indicando a necessidade de melhores condições de trafegabilidade – uma vez que a raiz de problema, a insuficiência do transporte coletivo, parece fora do radar do alcance dos governantes, de Brasília aos gestores municipais, passando pelo governo estadual.
Como se não bastasse esse indicador, mais de 400 atropelamentos, quase a metade dos notificados no ano passado, envolveram as motos. O risco, portanto, se expande a quem transita a pé, nas calçadas e nas ruas e avenidas pernambucanas. Mais uma vez, o que se realça não é um perigo intrínseco ao deslocamento sob duas rodas, mas a insegurança de tal deslocamento em condições inadequadas ao fluxo gerado pelo colapso do transporte coletivo. O alerta dos Bombeiros é propício a uma revisão da estrutura de fiscalização da condução, bem como do desenho e dos elementos de prevenção no tráfego das cidades e entre as cidades, sobretudo na Região Metropolitana.
A preocupação se amplia porque os números representam o agravamento de um quadro que já era grave – e apenas vem piorando, com o fenômeno do transporte por aplicativo para as motos. A convergência de comportamentos suscetíveis à ocorrência de sinistros contribui para a elevação estatística, fundada nas causas estruturais mencionadas. De um lado, motociclistas apressados para terminar uma corrida e atender a próxima, e de outro, passageiros pouco habituados a andar na garupa de uma moto, sujeitos aos solavancos e curvas da pressa ou da imprudência dos condutores, ou simplesmente de um trânsito caótico desprovido de ordem. Para conferir mais segurança às motos e reduzir seus riscos, tudo isso precisa mudar.

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