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Na espiral das guerras

Aprovação de envio de quase 100 bilhões de dólares dos EUA para armar a Ucrânia e Israel mostra o risco crescente do financiamento bélico

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Cadastrado por

JC

Publicado em 22/04/2024 às 0:00
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É impossível fazer o cálculo correto dos gastos com armamentos no mundo nas últimas décadas, porque provavelmente o custo é muito maior do que se divulga, e as transações comerciais envolvendo novas tecnologias de destruição e morte nem sempre são às claras. Mesmo assim, aquilo que vem à tona contabiliza um volume recorde de dinheiro lançado em mísseis, bombas, drones e jatos, por exemplo, da Rússia contra a Ucrânia e vice-versa, do Hamas contra Israel – e sobretudo vice-versa – e, mais recentemente, a impressionante ofensiva do Irã sobre os céus de Israel. Naquele ataque, o sistema de defesa antimíssil dos israelenses deu a primeira demonstração de porte, a respeito de sua eficácia, abatendo quase a totalidade dos drones e mísseis direcionados ao território israelense.
O que nos leva à indagação sobre o financiamento de tal arsenal dos iranianos. Em menos de 24 horas, quanto foi torrado dos dois lados, em um teatro de força que serviu para a plateia dos dois países – e de todo o planeta? No caso de Israel, o dinheiro foi muito bem gasto, provando, na prática, a capacidade de tornar suas fronteiras invioláveis pelo ar. Mas a suspeita de uma dança macabra de mísseis, combinada ou subentendida, pelo aviso do ataque com três dias de antecedência, deixou, no mesmo céu riscado pelo fogo, a melancólica mensagem de que, até para uma fake war – quem sabe sobretudo para elas – jamais faltarão bilhões de dólares.
No último sábado, deputados do governo e da oposição no Congresso dos Estados Unidos se juntaram para aprovar um pacote de apoio de 95 bilhões de dólares para a Ucrânia e Israel. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem insistido na necessidade do apoio externo para continuar resistindo à invasão russa. Em um caro e tenebroso jogo de xadrez, o avanço da Rússia e a defesa da Ucrânia seguem consumindo bilhões: oficialmente, os ucranianos tiveram um custo de 65 bilhões de dólares em 2023, enquanto a Rússia, segundo estimativas, teria gasto 109 bilhões de dólares. Os orçamentos militares, em todo o mundo, receberam no total, ano passado, 2,4 trilhões de dólares, de acordo com levantamento do SIPRI, entidade sueca para pesquisas pela paz.
Além das consequências diretas, como a morte de mais de 30 mil palestinos na Faixa de Gaza, em um território transformado em ruínas, o crescente financiamento das guerras pode gerar “uma espiral de ação e reação num cenário cada vez mais volátil”, na expressão de Nan Tian, pesquisador do SIPRI. A realidade vem se configurando talvez mais complexa e perigosa do que na Guerra Fria, quando os bilhões foram para pesquisas e a construção de bombas nucleares nunca utilizadas. Agora, os armamentos são usados, matam e mutilam milhares de pessoas, arrasam cidades – e precisam ser substituídos por mais armas e munições. Como sair dessa espiral?

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