Impacto do mosquito na economia
Prejuízos causados pelo Aedes aegypti podem passar de R$ 84 milhões, apenas em Pernambuco, este ano
As repercussões de epidemias na saúde pública e na vida cotidiana da população geram efeitos de grande alcance, também, nas relações econômicas formadas nas comunidades, nas cidades e nas regiões afetadas. A pandemia de Covid mostrou de maneira extrema como a doença que se espalha rapidamente entre os indivíduos afeta a organização coletiva, do ambiente escolar até os negócios e as ações governamentais. Não é diferente com a dengue, a chicungunha e a zika, arboviroses propagadas pelo mosquito Aedes aegypti, sobretudo a dengue, que vem alcançando níveis altos de incidência em várias partes do mundo, especialmente na América Latina, puxada pelo Brasil. E com mais infectados, o país tem mais prejuízos em consequência.
A Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) contabiliza até agora uma perda de R$ 35,5 milhões em 2024, para a economia. Com tendência de alta de casos, entrando na estação chuvosa, o impacto na indústria, no comércio e nos serviços no estado pode ultrapassar R$ 84 milhões em prejuízos. Na maioria das vezes, a falta ao trabalho é apontada como o principal fator de perda da produtividade, mas não é somente isso: a ocorrência de sintomas no ambiente de trabalho, sem o afastamento, também reduz o desempenho de qualquer pessoa infectada, contaminando a produtividade de todos. Mais uma razão para a incorporação das empresas ao esforço de comunicação e sensibilização da população para a importância da prevenção à doença.
Em pesquisa realizada pela entidade junto aos empresários pernambucanos, como o JC mostrou na edição de ontem, foram identificados como maiores impactos a queda na produção, a realocação de pessoal e o pagamento de horas extras, em decorrência das infecções nos trabalhadores. A perda de produção por trabalhador chega a R$ 2 mil, levando em conta uma semana de afastamento. E foram muitos, pois quase três quartos dos entrevistados revelaram ter tido empregados afastados por alguma arbovirose. O levantamento é relevante para o diagnóstico do quadro econômico, e serve ainda para orientar políticas públicas no ambiente de negócios, envolvendo a sociedade sobre os riscos de focos e da transmissão da enfermidade no trabalho.
O estudo da Fiepe complementa em Pernambuco um outro, divulgado no ano passado pela Fierj e abrangendo todo o Brasil. Os custos de internação, previdência, tratamento e ações preventivas foram estimados em R$ 3 bilhões anuais, no país. Metade desse valor corresponde aos recursos repassados do governo federal a estados e municípios, com o objetivo de controle da doença – montante claramente mal gerido ou insuficiente, diante do aumento da incidência das arboviroses no território nacional este ano. O cenário nos setores produtivos deve ser um elemento adicional à necessidade evidente de se buscar participação efetiva da população, bem como a melhoria das políticas públicas para a contenção das arboviroses.