Consequências debaixo d’água
Das perdas humanas e materiais ainda incalculadas, até incertezas diante do horizonte de tempo, os efeitos dos temporais podem durar
Cidades ilhadas, um estado alagado, aviões e automóveis parados numa lâmina imensa de água. Os gaúchos estão sofrendo os terríveis impactos de um desastre ambiental de largas e dramáticas proporções. O mais inquietante é acompanhar as notícias, compartilhar a visão das imagens que chegam a todo instante, e ir sabendo, de modo angustiante, que as consequências ainda repousam debaixo dos alagamentos e das ruínas molhadas. Pouco a pouco elas vão se revelando, trazendo à tona a dor humana e os prejuízos que se espalham em diversas atividades. As restrições de acesso aos lugares, a falta de água potável, de alimentos, roupas e remédios, a ameaça ao abastecimento de energia, inúmeras pessoas desalojadas e desabrigadas, compõem o cenário imediato de uma história cujos desdobramentos, no entanto, vão continuar pelos próximos meses, e em alguns casos, durante anos, como os traumas psicológicos para quem está atravessando esse difícil momento para o Rio Grande do Sul e o Brasil.
Os problemas se acumulam sobre a tristeza da destruição. No município de Canoas, policiais precisam escoltar os barcos de voluntários, por causa do vandalismo registrado em algumas cidades. Dezenas de vândalos e outros criminosos foram presos, ao tentarem se aproveitar da ocasião para invadir as casas, ou mesmo roubar os barcos dos voluntários, para fugir da polícia. Ladrões trocaram tiros com policiais escoltando voluntários que estavam resgatando os ilhados. A violência tende a se agravar enquanto a situação não retornar ao clima de normalidade, sob o controle dos governos para a garantia da vida da população. E por mais que se apontem omissões e equívocos da gestão pública, em todos os níveis, após o rastro de tragédia ambiental, a hora é de apoiar o poder público, que detém a responsabilidade de organizar a ajuda humanitária, bem como, em seguida, a reconstrução do que precisa ressurgir.
O impacto na economia local e nacional será grande. As culturas de arroz e de frutas, por exemplo, podem demorar a se recuperar, causando problemas no abastecimento de todo o Brasil. O governo federal já cogita a necessidade de importar arroz, a fim de não permitir o desequilíbrio que pode gerar aumento de preços ao consumidor, de um dos produtos mais comum na refeição dos brasileiros. Na educação, a suspensão das aulas deve ser estendida, naquelas em que a força das águas deixou escombros onde os alunos estudam e convivem. O mesmo nos hospitais e unidades de atendimento de saúde, especialmente da rede pública, o que se torna um problema maior com a expectativa de doenças, nas próximas semanas, em decorrência dos alagamentos e das condições de vida de parte da população gaúcha.
À medida em que as águas baixarem, providências terão que ser tomadas, pelos governos e parlamentos que têm a prerrogativa de gerir o dinheiro público, e pela sociedade de um modo geral, que pode acelerar o restabelecimento do cotidiano com o apoio ao alcance de cada cidadão.