EDUCAÇÃO

Valorizar professoras e professores

Sem a dedicação de quem transmite o saber, orientando e inspirando, o futuro das novas gerações pode ser perdido

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JC

Publicado em 10/05/2024 às 0:00
Notícia

Depois dos pais e de outros integrantes da família, a principal referência afetiva de formação para a vida, na maioria dos casos, recai sobre uma professora ou professor que marca a trajetória de todos nós. Muitos temos a sorte de recordar mestres que deixaram, além do trabalho em sala de aula, a marca indelével da saudade. Lembranças que se misturam ao que legaram no aprendizado elementar, no exemplo ético, na disponibilidade para o acolhimento. Desde os primeiros contatos com a leitura, a escrita, os números e contas, os segredos da natureza e o deslumbramento do nosso lugar no planeta e no universo, professores são guias de novíssimos caminhos para seus alunos e alunas, percorrendo as mesmas trilhas tantas vezes, acompanhando cada turma no desbravamento do que se sabe e do que se tem por conhecer. Nessa repetição que se transforma pela linha do tempo do conhecimento humano, a realização de quem se doa à educação se encontra com a perspectiva de quem recebe a lição passada: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”, escreveu Cora Coralina.
Mas a felicidade não está em alta entre o professorado brasileiro. Pesquisa do Instituto Semesp, realizada em março e divulgada na última quarta-feira, aponta que quase 80% dos profissionais do ensino já pensaram em desistir da atividade. O universo dos entrevistados abrangeu do nível fundamental ao médio, nas redes públicas e privadas de todas as regiões do país. A desmotivação não é novidade: reconhecimento proporcional ao salário baixo, desinteresse e desrespeito dos alunos, falta de participação das famílias, em conjunção com a carga horária excessiva que, não raro, se estende fora do ambiente de trabalho, sobretudo entre os mais dedicados, preocupados com o desempenho em resposta ao conteúdo dado.
O levantamento integra o Mapa do Ensino Superior no Brasil, como o JC destacou na edição da quinta-feira. Um dado complementar à realidade vivenciada por professoras e professores é a indicação de que 60% dos estudantes de licenciatura na rede privada, e 40% na rede pública, desistem da formação. O que não é estranho diante do panorama da profissão. E não por acaso, menos de 7% dos mais jovens querem seguir cursos na área de formação. Ou seja, o abandono do cuidado com missão do ensino afasta cada vez mais a juventude do desejo de ser professor ou professora.
O problema, claro, não é exclusivamente brasileiro – o que não significa que não devamos tomar o problema como nosso. Na Venezuela, professores largados pela gestão pública estão largando, por sua vez, as escolas, sem dinheiro sequer para se alimentar com decência. De acordo com a estimativa dos sindicatos venezuelanos, 200 mil professores deixaram a profissão nos últimos anos, por causa dos baixos salários e das péssimas condições de trabalho. Não é difícil encontrar, por lá, professoras buscando renda com o transporte de mototáxi.
Enquanto os governos e a população em geral não compreenderem a necessidade da valorização dos professores e professoras para o desenvolvimento e a transformação social, as coisas vão continuar indo de mal a pior – para os venezuelanos, brasileiros e qualquer cidadão de um país em que a educação não cumpre o seu papel coletivo.

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