SOLIDARIEDADE

Um Brasil mais brasileiro

Dimensão inédita da crise ambiental no Rio Grande do Sul gera apoio da população em todo o país

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JC

Publicado em 20/05/2024 às 0:00
Notícia

A informação instantânea é capaz de proporcionar empatia quase imediata. No caso de aflições coletivas como as que os gaúchos vêm experimentando desde o início dos alagamentos em quase todo o estado, o movimento espontâneo de amparo foi observado tanto lá dentro, com o engajamento de milhares de voluntários no resgate e acolhimento das pessoas, e na limpeza das casas inundadas, quanto do lado de fora. O resto do Brasil se uniu ao Rio Grande do Sul mais do que nunca, mostrando o tamanho da identidade nacional entre habitantes de regiões distantes em uma nação continental. O envio de donativos e a transferência direta de recursos financeiros para entidades credenciadas, foram surpreendentes na escala, mobilizando esquemas complexos de logística para receber, separar e distribuir o material que chegou ao estado.
As águas e seus tormentos não baixaram ainda – e quando baixarem, deixarão prejuízos extensos que irão demorar a ser superados. “Ironicamente, a gravidade dos fatos é um divisor de águas cujo espectro acompanhará, por um longo tempo, a sociedade gaúcha e uma nação inteira”, escreveu o ex-governador de Pernambuco, e ex-ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause, em artigo publicado no JC. Ao recordar ações de solidariedade do Amapá, em Brasília e no Recife, o presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Marcelo Rech, em artigo publicado na mesma edição de domingo no JC, ratificou a importância desse marco que emergiu da tragédia: “Talvez não soubéssemos que éramos uma nação profundamente solidária, ou não nos lembrássemos mais, diante da divisão entre brasileiros escavada artificialmente para eleger políticos de diferentes matizes ideológicos que tiram vantagem do ódio entre conterrâneos”.
Marcelo Rech vai no ponto ao afirmar que pode estar surgindo, “como uma flor no pântano da catástrofe, “um Brasil com mais cara de Brasil”, onde as divergências não se ocultam, porém não causam a separação de familiares e amigos, e o poder público trabalha pela coletividade, sem tratar o povo de estados e municípios governados por adversários políticos como inimigos. Um Brasil mais brasileiro há de ser ponto de inflexão para conquistas que reflitam essa união, na superação de calamidades silenciosas como o analfabetismo no Nordeste, que atinge o dobro da média nacional. As desigualdades regionais foram aprofundadas pelo acirramento político – e para isso basta rever os comentários preconceituosos que inundaram as redes sociais após as últimas eleições presidenciais. O comportamento do povo brasileiro diante da tragédia no Sul – que agora ameaça os catarinenses, além de seguir impondo medo e incertezas nos gaúchos – representa um sinal de empatia digno de um resgate do espírito da brasilidade.
O país continuará sendo vasto, diverso, múltiplo. Mas o sentimento que une os brasileiros pode ser melhor identificado com a proximidade dos gestos de fraternidade que demonstram compreensão das necessidades de outros brasileiros. Tal tipo de comportamento é fundamental, não apenas no momento trágico, mas sobretudo no longo percurso de um desenvolvimento justo.

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