Festa que impulsiona o Nordeste
Durante todo o mês de junho, as celebrações em polos regionais e em outras cidades do interior, além das capitais, dinamizam a economia e promovem a identidade do povo
Como as pessoas reunidas e a tradição evocada, o turismo é aquecido ao redor das fogueiras de São João. Tanto nos destinos mais famosos, como Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, quanto nas capitais e em praticamente todo o interior do Nordeste, o mês de festividade é também período de alta circulação de gente. E assim, de ampliada demanda por produtos e serviços típicos locais, beneficiando produtores e comerciantes de cada cidade. Mas além do caráter de fortalecimento comunitário, o mês junino resgata a identidade do povo nordestino, recordando a unidade cultural sem minimizar as diferenças peculiares que encantam os visitantes e fazem o orgulho da população, em cada lugar.
A alegria toma conta dos habitantes de uma região pobre, com diversos indicadores de baixa qualidade de vida em relação a outras regiões brasileiras. A desigualdade que se ergue no país há tanto tempo encontra, no Nordeste, uma síntese de desafios a serem enfrentados. A miséria e a pobreza, a saúde e a educação, precisam de investimentos estruturais que impulsionem a produção de riquezas a serem melhor distribuídas entre os nordestinos. Desse caldo de dificuldades, em que também se destaca uma larga porção do território de clima semiárido em risco de desertificação, na crista da onda das mudanças climáticas, desse caldo surge a potência transformadora que vem das tradições culturais, como o São João e o Carnaval – mas que ganham na expressão junina, talvez, sua maior relevância, em termos de alcance regional.
Em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro, a fé religiosa e o gosto pelo prazer da vida se mesclam num período intenso de festas que ressaltam as paisagens e características naturais, os hábitos, a música e a dança, além da gastronomia dos lugares. As prefeituras investem pequenas ou grandes fortunas – de acordo com o porte do município – para atrair turistas e amplificar os negócios para a população, sem esquecer os dividendos políticos que uma festa inesquecível é capaz de agregar. Nessa linha, artistas locais e nacionais dividem os palcos, em alguns casos, com produções requintadas, dignas de eventos internacionais, com muitas luzes, telões e tecnologia. A exemplo da praça de shows em Caruaru, em caprichada produção para apresentações musicais com artistas daqui e de outras partes do país. Na abertura oficial, aliás, o baiano Carlinhos Brown exaltou o caráter regional da festa junina para a formação da identidade brasileira.
Oportunidade de congraçamento em torno das raízes e do que nos une, o São João é também oportunidade econômica para muitos nordestinos. O mês junino deve servir para chamar a atenção do país para a região, na observação atenta do que está por trás da festa. E sobretudo, para a valorização da capacidade empreendedora e criativa do povo do Nordeste, pelos próprios cidadãos nordestinos.