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Com ódio ou ousadia?

Mistura de agressividade com desinformação contra alvos políticos escolhidos de acordo com a pauta do dia continua rendendo muita audiência no Brasil

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Cadastrado por

JC

Publicado em 12/06/2024 às 0:00
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A receita é conhecida e bastante criticada, embora na prática sirva a propósitos radicais opostos, que se igualam nos métodos e objetivos: canais de “mídia alternativa” e personalidades turbinadas por milhares ou milhões de seguidores nas redes sociais, escolhem alvos e temas para descarregar munições de mentiras em linguagem agressiva. É o teatro da fake news nas telas, que já foi combatido, no governo passado no Planalto, pela montagem de um “gabinete do ódio” com a finalidade única de detratar oponentes e espalhar falsidades de apelo público. Sim, porque também há mentiras que colam, e aquelas que não colam tão facilmente. Mas no país do radicalismo divisionista que se tornou o Brasil, milhões de pessoas preferem não duvidar das mensagens que recebem, preferindo compartilhar e comentar tudo como verdades convenientemente repassadas em sintonia com a opinião de quem as recebe.
Um campeão de audiência no Youtube produz e replica conteúdos em favor do governo Lula, com vários processos em andamento na Justiça. É filiado ao PT e tem na capa do canal uma foto ao lado do presidente da República. Pelo visto, nada mais bolsonarista do que um petista devotado nas redes sociais – para recordar os influenciadores que trabalhavam soltando disparos de desinformação em favor do ex-presidente, seu governo e suas posições questionáveis, como foi comum durante a pandemia de Covid. Reportagem do jornal O Estado de São Paulo mostrou que o modus operandi dos bolsonaristas no poder é similar ao dos petistas agora, que fazem reuniões de pauta com influenciadores digitais no “gabinete da ousadia” – e basta ver as postagens para reconhecer que se trata do mesmo tipo de informação, com sinal trocado. Para os seguidores e admiradores – sim, existem – o campeão de audiência governista é um craque em “comunicação popular”.
O time dos ousados petistas gosta de criticar a imprensa que não faz “comunicação popular” em favor do presidente, ou em alinhamento automático ao governo, seus personagens e promessas. Como recordou o colunista do JC, Igor Maciel, a rotina da ousadia – bem protegida atrás das telas – é a mesma estratégia comunicativa nos governos anteriores do PT, só que antes eram os blogueiros na linha de frente. A diferença para o bolsonarismo odiado por petistas é nenhuma. O ódio recíproco é a marca de uma guerra virtual que tem gerado desavenças e polêmicas entre os cidadãos, além de desgastar uma democracia fragilizada por Três Poderes em flagrante desarticulação.
É preciso criminalizar e punir a produção e a distribuição sistemática de mentiras e ofensas nas redes sociais e nas plataformas de conteúdo. De onde quer que partam, configuram abusos da credulidade de parcelas da população que se acostumaram a crer no que desejam, e condenar sem provas a não ser a fonte popular da informação inventada. Com ódio ou ousadia, as redes sociais no Brasil – e a opinião pública em geral – sentem falta de equilíbrio e sensatez, igualmente em falta no embate político no qual escasseiam as lideranças de centro, e sobram aproveitadores nas duas bordas.

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