PERNAMBUCO

Mortes violentas assustam

Domínio de facções de drogas deixa cidades pernambucanas entre aquelas com mais homicídios em todo o país, num desafio que segue sem solução

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JC

Publicado em 19/06/2024 às 0:00
Notícia

A questão é recorrente, o diagnóstico é conhecido e o cenário não melhora. A falta de controle do Estado faz com que municípios pernambucanos se tornem reféns do domínio de facções criminosas do tráfico de drogas, há muitos anos. A insegurança resultante deixa a população amedrontada, e o índice de mortes violentas dispara, por causa da guerra pelo mercado de entorpecentes, na disputa de gangues. Num país de zonas urbanas violentas, onde milicianos, traficantes e outros bandidos aproveitam o vácuo de políticas públicas preventivas eficientes, Pernambuco se destaca como um dos lugares onde a taxa de homicídios é maior. Além de viver em um estado pobre, desigual e com vários problemas estruturais, a violência também aflige o cidadão pernambucano.
Divulgado esta semana, o Atlas da Violência 2024 reitera a face cruel de uma realidade que continua fora do controle, exibindo números alarmantes que desafiam as autoridades de segurança pública, e assustando e restringindo o cotidiano de muita gente. Nada menos que 11 municípios de Pernambuco, todos acima de 100 mil habitantes, integram o ranking dos mais violentos do Brasil, com altas taxas de homicídio – numa conta simples, mais de 1 milhão e 100 mil habitantes dessas cidades têm o problema na agenda do dia. É uma parcela nada desprezível do estado, mostrando como a força do tráfico se alastrou em nosso território.
No topo do estudo do IPEA e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em dados de 2022, estão cinco cidades da Bahia, duas delas com mais de 90 assassinatos para cada 100 mil habitantes. A violência policial letal é apontada como um fator adicional para alto índice baiano. O panorama, portanto, se apresenta em dimensão regional, apesar de poder ser visto como tragédia nacional, com tantas cidades cobertas de sangue. É o caso do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, com 66 mortes para cada 100 mil habitantes, ocupando a 8ª colocação no ranking das cidades mais violentas do país. A maioria das vítimas é de jovens de 18 a 29 anos, confirmando o aliciamento de um mercado criminoso que favorece a morte prematura, associada a condições sociais de vulnerabilidade.
A polícia sabe o que está enfrentando. No Cabo ou em outras cidades brasileiras, não faltam informações sobre as facções, seus métodos e sua infiltração nas comunidades. Mas a segurança pública ainda carece de estrutura suficiente para restaurar o controle das comunidades e, assim, das cidades em que o tráfico se instalou. A mesma facção que manda no Cabo atua na praia de Porto de Galinhas, estrela do litoral sul pernambucano. Como no Rio de Janeiro, a exploração do turismo pelas drogas desponta. São pontos disputados, visados pelos bandidos e transformados em feridas abertas da gestão pública. Em Pernambuco, por causa das cidades em que mais se mata, a média de homicídios foi de 37 por 100 mil em 2022, bem acima da média nacional, de 21 por 100 mil. No Recife, a taxa é ainda maior, chegando a 44 por 100 mil, deixando-nos como a sexta capital em mortes violentas no país.

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