Universidades sem recursos
Embora o presidente Lula tome como afronta pessoal, a pressão do ensino superior é justa, após anos de redução orçamentária e obras inacabadas
No governo passado, a educação no Brasil teve que enfrentar uma sequência desastrosa de ministros polemistas, e um presidente pouco interessado na formação da população, desde a base até o desenvolvimento profissional e de uma cidadania crítica. Muitos desejaram que as dificuldades estruturais seriam uma etapa vencida, com a não reeleição de Jair Bolsonaro. No entanto, o atual ocupante do Planalto, eleito sob forte expectativa de reitores, professores e estudantes, chega ao meio do segundo ano do terceiro mandato em descrédito. No ensino superior público, após dois meses de movimento grevista, o presidente Lula exibe falta de paciência, agride verbalmente os reitores das universidades – e com isso, o próprio ensino público, em suas instituições fundamentais – e esquece que, além de serem justas, as demandas são antigas.
Reportagem publicada na Folha de S. Paulo fez um balanço da realidade que o presidente Lula procura esconder, quando toma a greve por ofensa pessoal, como se os reitores e o ensino superior brasileiro não tivessem nada a reclamar do governo federal – de onde saem os recursos para custear os gastos e promover os investimentos. Respondendo ao movimento com agressividade tão descabida quanto a ira frequente de seu antecessor no Planalto, o presidente da República perde a oportunidade de estabelecer vínculos melhores, bem como definir prioridades na agenda das universidades, que precisam buscar outras fontes de recursos – por exemplo, nas emendas parlamentares, para completar o orçamento – e seguir no ritual de visitas a Brasília para que obras prometidas há mais de uma década, muitas nos governos petistas, venham a ser cumpridas. Lula, claro, sabe disso, daí prefere mudar de assunto, e politizar uma demanda que atravessa governos e atrasa não somente a educação, como a íntegra do desenvolvimento do país.
Como a estratégia de anunciar recursos bilionários para recompor os orçamentos e retomar obras inacabadas não foi suficiente, diante da continuidade das dificuldades nos campi, ou seja, na prática, o dinheiro continua curto e as obras, paradas, o presidente resolveu partir para o confronto, ao invés de negociar o consenso e atender aos pleitos, mais do que justos, dos reitores e das comunidades universitárias e técnicas da rede pública de ensino superior. A retórica do anúncio se perdeu na constatação de que parte expressiva dos recursos anunciados já eram previstos há meses, configurando primário jogo de cena de uma gestão descompromissada com suas próprias metas – basta ver a novela do arcabouço fiscal.
Nesse contexto de penúria do custeio e obras à espera de continuidade, o programa de expansão das universidades federais soa como insulto ao bom senso. Se é importante que a rede se expanda, a prioridade deveria ser cuidar das universidades que pedem, com urgência, a recomposição das contas e a recuperação da infraestrutura. A degradação em curso exige do governo federal mais seriedade no enfrentamento do problema, sem demagogia nem desvios: se a educação é prioridade, quais são as prioridades na educação?