Confiança nas instituições
Estratégia de melhorar a articulação da gestão pública entre os governos federal e estaduais é o melhor caminho para combater o crime organizado
Assim como o governo de Pernambuco já vislumbra efeitos positivos no combate à criminalidade, através da conjunção de inteligência e repressão aos principais focos de atuação das gangues do tráfico de drogas no estado, o governo federal pretende investir em estratégia semelhante, a fim de reduzir a violência no país. O novo plano federal deve investir na integração entre os estados, aliando otimização de recursos e melhor uso da informação compartilhada. A afirmação foi feita pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, em entrevista ao Jornal do Commercio.
Entre as metas do plano está a retomada de áreas dominadas pelo tráfico. Eis um objetivo necessário e, ao mesmo tempo, ousado, em decorrência da dimensão do domínio das facções sobre diversas comunidades no Brasil. A necessidade se impõe há anos, sem que os governos, em todas as instâncias, tenham conseguido, ao menos, impedir o avanço da criminalidade sobre a vida dos cidadãos. A recuperação da ordem coletiva por meio da vigência de leis e da presença do Estado, através de ativações sociais e da proteção policial, é fundamental para evitar que a população fique à mercê dos bandidos. E pior, que o destino das novas gerações se perca, na arregimentação do crime, pela falta de perspectiva de garantias das instituições. Já passou da hora de os governos e a sociedade brasileira enxergarem que a violência é um dos principais elementos de corrosão das democracias, em todo o mundo.
Portanto, mais que a retomada de territórios perdidos para o crime, há que se buscar a restauração da confiança coletiva nas instituições – e essa pode ser uma das consequências de um efetivo programa de segurança pública. Para que os criminosos não governem, como tem ocorrido na prática nesses territórios sequestrados pelas facções, o Estado tem que voltar a ser visto como promotor do bem social. Para Mário Luiz Sarrubbo, o modelo pretendido irá levar cidadania às pessoas, e não apenas reprimir a violência que provoca mortes e medo. É o que se espera do Estado: uma dose de equilíbrio entre a força que reprime e a ação positiva que constrói melhores laços com a população, e oferece oportunidades para os indivíduos.
Em relação à integração, trata-se de medida óbvia diante da realidade do crime espalhado no país. “Nós precisamos ter um alinhamento, independentemente da matriz ideológica de cada um. Precisamos ter uma centralização nessa política para que ela possa ser efetiva, porque o crime organizado está de norte a sul”, disse o secretário à reportagem do JC. De fato, a política não pode constituir empecilho para a sintonia de gestão que vise a proteção da população e a redução da criminalidade. Sem integração, com baixa articulação, o crime organizado vai continuar mandando e desmandando. Com inteligência, em uma estratégia articulada e focada nos locais dominados, como se vê em Pernambuco após um longo hiato, os brasileiros podem rever a esperança de uma vida mais segura, premissa para o enfrentamento de um cotidiano carregado de outros problemas.