A ditadura de Maduro

Com eleições próximas, crescem evidências de que o governo de Nicolás Maduro amplia censura e repressão, segundo a Organização das Nações Unidas

Publicado em 02/07/2024 às 0:00

As condições de vida em um país empobrecido, afundado por um governo totalitário que se prolonga há muito tempo, fazem da Venezuela um lugar do qual parte da população foge, em desespero, da miséria e da violência estatal. Já são mais de 6 milhões de refugiados, a maioria em outros países da América Latina. Comandado pelo sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, o governo venezuelano ataca seguidamente as liberdades individuais e coletivas, censurando a imprensa, reprimindo opositores e gerando ainda mais desconfiança internacional, às vésperas de nova eleição presidencial.
A situação do povo venezuelano é ainda pior devido às sanções dos Estados Unidos e de países da Europa. Em reconhecimento ao autoritarismo que toca, Maduro aceitou, em acordo divulgado no ano passado, realizar eleições para a presidência da República no dia 28 deste mês, com transparência e a participação da oposição, em troca da redução das sanções. Mas a contrapartida de resgate, ainda que momentâneo, da democracia, está sendo posta em xeque por um relatório do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, segundo o qual a repressão aos opositores continua, e a transparência no processo eleitoral permanece distante de ser garantida.
Não apenas o acordo pela democracia, mas as próprias eleições tomam a forma de jogo de cena, na medida em que Nicolas Maduro anulou o monitoramento da votação pela União Europeia, que antes havia restaurado as sanções, acusado o governo da Venezuela de não cumprir com o acordo firmado. Sem os principais líderes da oposição que tenta se estabelecer no país sob a sombra de um regime autoritário, o pleito de julho passa a ser mais um engodo para a renovação do poder de um ditador. Como a ONU afirma no documento, as sanções que geram um embargo não justificam nem a repressão, nem a falta de transparência para que os cidadãos escolham livremente um novo governo. Se escolhesse a democracia, ao invés de impedi-la, Maduro anularia a justificativa internacional do embargo.
O relatório informa que, somente este ano, nada menos que sete líderes opositores do regime foram impedidos de participar das eleições. Quinze membros de cinco partidos de oposição foram presos. Para barrar a oposição no ambiente acadêmico, o governo também suspendeu eleições em algumas importantes universidades. A prática recorrente da violência política amordaça os cidadãos e retira do governo de Nicolas Maduro qualquer credibilidade para uma real intenção de reabrir o país para a democracia. Enquanto o ditador se mantém por todos os meios no poder, o embargo igualmente é mantido, e a população, abandonada, procura o futuro em outras paragens.
A ONU pede que a Venezuela restaure a pluralidade que permita o exercício dos direitos políticos e civis por todos os cidadãos, e que o governo interrompa os constantes ataques aos opositores, respeitando a liberdade de associação e de expressão – inclusive da imprensa, que sofre o cerceamento típico dos regimes de exceção: mais de 30 estações de rádio, por exemplo, já foram retiradas do ar por críticas ao governo.

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